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Faze o que tu queres será o todo da Lei.

Este texto é a tradução da História da Ordem de autoria de Frater Sabazius X°, Rex Summus Santissimus
da Grande Loja dos E.U.A. (www.oto-usa.org).
Tradução: Tahuti
Revisão: יה-אמא-אל

Por Sabazius X° e AMT IX°

Mesmo que oficialmente fundada no princípio do séc. XX e.v., a O.T.O. representa a emergência e a confluência de divergentes correntes da sabedoria e do conhecimento esotérico que estavam originalmente divididos e lançados à cultura underground pela intolerância política e religiosa durante os anos de escuridão. Isso remete às tradições da Maçonaria e dos movimentos Rosacruciano e Iluminista dos séculos XVIII e XIX, aos Cavaleiros Templários da Idade Média, ao antigo Gnosticismo Cristão e às Escolas Pagãs de Mistérios. Seu simbolismo contém uma reunificação das tradições ocultas do Ocidente e do Oriente, e o conhecimento destas tradições possibilitou-a reconhecer o verdadeiro valor da revelação, por Aleister Crowley, do Livro da Lei.

Carl Kellner – O Pai Espiritual da O.T.O.

O Pai Espiritual da Ordo Templi Orientis foi Carl Kellner (Renatus, 01/09/1851 – 07/06/1905), um austríaco, rico, químico da celulose. Kellner foi um estudante da Maçonaria, Rosacrucianismo e do misticismo oriental; viajou extensamente pela Europa, América e Ásia Menor. Durante suas viagens, ele alegou ter entrado em contato com três Adeptos (um Sufi, Soliman ben Aifa, e dois Tantristas hindús, Bhima Sena Pratapa de Laore e Sri Mahatma Agamya Paramahamsa), e uma organização chamada A Irmandade Hermética da Luz.

Em 1885, Kellner encontrou o estudioso teósofo e rosacruciano Dr. Franz Hartmann (1838 – 1912). Ele e Hartmann posteriormente colaboraram no desenvolvimento da terapia por inalação de “ligno-sulfita”, para o tratamento da tuberculose, a qual formou a base de tratamento do sanatório de Hartmann nas proximidades de Saltzburg. Durante o decorrer de seus estudos, Kellner acreditou ter descoberto uma “Chave” que oferecia uma clara explicação de todo o complexo simbolismo da Fracomaçonaria e, acreditava Kellner, que abria os mistérios da Natureza. Kellner desenvolveu um desejo de formar uma Academia Masonica que pudesse tornar os maçons familiarizados com todos os graus e sistemas maçônicos existentes.

Academia Maçônica

​Em 1895 Kellner começou a debater sua ideia de fundar uma Academia Masonica com seu associado, Theodor Reuss (Merlin ou Peregrinus, 28/06/1855 – 28/10/1923). Durante as conversas, Kellner decidiu que a Academia Masonica deveria chamar-se “Ordem Templária Oriental”. O círculo interno, oculto, desta Ordem (a O.T.O. propriamente dita) deveria organizar-se em paralelo aos mais altos graus dos Ritos Maçônicos de Memphis e Mizraim, e deveria ensinar as doutrinas esotéricas rosacrucianas da Irmandade Hermética da Luz, e a “Chave” de Kellner para o simbolismo maçônico. Tanto homens quanto mulheres seriam admitidos a todos os níveis da Ordem, mas a posse de vários graus de Ofício e Altos Graus da Francomaçonaria deveriam ser um pré-requisito para a admissão no Círculo Interno da O.T.O..

Infelizmente, devido aos regulamentos das Grandes Lojas estabelecidas que governavam a Maçonaria Regular, mulheres não podiam se tornar maçons e assim, como regra, seriam excluídas da admissão à Ordem Templária Oriental. Esta deve ter sido uma das razões pelas quais Kellner e seus camaradas resolveram obter controle sobre um dos muitos ritos, ou sistemas, da Maçonaria: para reformar o sistema para a admissão de mulheres.

As discussões entre Reuss e Kellner não levaram a resultados positivos àquela época, pois Reuss estava muito ocupado com o renascimento da Ordem dos Illuminati, juntamente com seu colega Leopold Engel (1858 – 1931), de Dresden. Kellner não aprovava a recriação dos Illuminati; ele também não aprovava Engel. De acordo com Reuss, antes de sua separação final de Engel em junho de 1902, Kellner contatou-o e ambos concordaram em proceder com o estabelecimento da Ordem Templária Oriental, buscando autorizações para atuar nos vários ritos dos altos graus da Maçonaria.

Bases Maçônicas

Theodor Reuss, além de ser o líder da renascida Ordem Illuminati da Baviera, era também o Grande Mestre do Rito de Swedenborg da Maçonaria na Alemanha (patente datada de 26 de julho 1901, por W. Wynn Westcott), Inspetor Especial da Ordem Martinista na Alemanha (patente datada de 24 de junho 1901, por Gérard Encausse) e Magus do Alto Conselho da Alemanha da Societas Rosicruciana em Anglia (carta de autorização datada de 24 de fevereiro de 1902, por W. Wynn Westcott). Com a ajuda de Kellner, Reuss contactou o estudioso maçônico John Yarker (1833 – 1913), com o intuito de obter patentes para operar em três sistemas dos altos-graus da Francomaçonaria, conhecidos como o Rito Antigo e Primitivo de Memphis, de 97°, o Rito Oriental Antigo de Mizraim, de 90°, e o Rito Escocês Antigo e Aceito, de 33° (Conselho de Cernau, Nova York, 1807).

Reuss recebeu cartas-patente de Grande Inspetor Soberano 33° do Rito Escocês de Cernau, outorgadas por Yarker, com data 24 de setembro de 1902. De acordo com a transcrição publicada, Yarker, na mesma data, emitiu uma autorização a Reuss, Franz Hartmann e Henry Klein para operarem um Soberano Santuário 33°-95° dos Ritos Escocês, de Memphis e de Mizraim. Yarker emitiu uma segunda patente confirmando a autoridade de Reuss para operar nos referidos Ritos em 1° de julho de 1904; e Reuss publicou a transcrição de uma patente adicional de confirmação, datada de 24 de junho de 1905. Reuss iniciou a publicação de um periódico maçônico, The Oriflamme, em 1902.

Esses Ritos, em conjunto com o de Swedenborg, foram adotados como elementos integrais dentro do esquema geral da Ordem. O Rito de Swedenborg incluía uma versão dos graus de Ofício, e o Rito Escocês de Cernau e os Ritos de Mephis e Mizraim proveram uma seleção de “altos graus” operáveis, a mais completa que já existiu. Juntos, eles proveram um sistema completo de iniciações maçônicas à disposição da Ordem. Com a incorporação desses ritos, a Ordem estava pronta para operar como um sistema maçônico completamente independente. Reuss e Kellner prepararam juntos um breve manifesto para sua Ordem em 1903, o qual foi publicado no ano seguinte no “The Oriflamme”. Kellner morreu em 7 de junho de 1905, e Reuss assumiu pleno controle da Ordem. Com auxílio dos cofundadores Franz Hartmann e Heinrich Klein, Reuss preparou uma Constituição para a Ordem em 1906.

A O.T.O. Dirigida por Reuss

Os Primeiros Tempos

​Rudolph Steiner (1861-1925), que era nesta época o Secretário-Geral do ramo alemão da Sociedade Teosófica, em 1906 recebeu a patente de Grande Mestre Delegado de um Capítulo subordinado à O.T.O./Memphis/Mizraim e do Grande Conselho chamado “Mystica Aeterna” na Alemanha. Steiner saiu para fundar a Sociedade Antroposófica em 1912 e encerrou sua associação com Reuss em 1914.

Em 24 de junho de 1908, o Dr. Gérard Encausse (Papus, 1865-1916) organizou uma “Conferência Maçônica e Espiritualista Internacional” em Paris, à qual Reuss compareceu. Nesta conferência, Encausse recebeu de Reuss, sem contrapartida, uma patente para estabelecer um “Supremo Grande Conselho Geral dos Ritos Unidos da Maçonaria Antiga e Primitiva para a Grande Oriente da França e suas Dependências em Paris”. No ano anterior, Encausse, juntamente com Jean Bricaud (1881-1934) e Luis‑Sophrone Fugairon (n. 1846), havia organizado a Église Catholique Gnostique, a Igreja Gnóstica Católica, um cisma da Église Gnostique, uma igreja neoalbingense fundada em Paris em 1890 por Jules Dionel (1842 – 1903). Acredita-se que, nesta conferência, Reuss recebeu consagração episcopal e autoridade de primaz na Église Catholique Gnostique de Encausse e Bricaud. O envolvimento de Encausse com a O.T.O., per se, é incerto.

Ainda nesta conferência o Dr. Arnold Krumm-Heller (Huiracocha, 1879- 949) recebeu uma patente de Reuss como representante oficial para a América Latina. Krumm-Heller desenvolveu sua própria ordem, chamada Fraternitas Rosacruciana Antigua (F.R.A.). De acordo com seu filho, Parsival, ele nunca fundou Lojas da O.T.O., nem iniciou quaisquer membros ou tenha operado algum corpo da O.T.O.

Reuss e Crowley

​Como jornalista, Reuss viajava frequentemente à Inglaterra. Em uma destas viagens, ele conheceu Aleister Crowley (Baphomet, 12 de outubro de 1875 – 1° de dezembro de 1947), que foi admitido aos três primeiros graus da O.T.O. em 1910. Em 21 de abril de 1912, Reuss deu a Crowley uma patente, sem contrapartida, indicando-o como Grande Mestre Nacional Geral X° da O.T.O. para a Grã-Bretanha e Irlanda. A indicação de Crowley incluía autoridade sobre os Ritos de língua Inglesa nos graus inferiores (maçônicos) da O.T.O., aos quais foi dado o nome de Mysteria Mystica Maxima, ou M.·.M.·.M.·.

Em 1° de junho de 1912, uma Grande Loja Nacional para os países eslavos foi estabelecida por Czeslaw Czynski. Franz Hartman morreu em 7 de agosto de 1912. Em setembro de 1912, Reuss publicou a “Edição de Jubileu” do “The Oriflamme”, que foi a primeira a tratar da O.T.O., e foi quase inteiramente devotada a assuntos da O.T.O. Kellner, Reuss e Crowley foi listados como membros do X° da O.T.O.. Também em 1912 Crowley publicou o “Manifesto da M.·.M.·.M.·.”, no qual M.·.M.·.M.·. era identificada como a seção britânica da O.T.O., que “incluía todos os países onde o inglês era falado”. A O.T.O. é descrita neste documento como “…um corpo de iniciados em cujas mãos está concentrada a sabedoria e o conhecimento dos seguintes corpos:

1. A Igreja Gnóstica Católica.

2.A Ordem dos Cavaleiros do Espírito Santo.

3.A Ordem dos Illuminati.

4.A Ordem do Templo (Cavaleiros Templários).

5.A Ordem dos Cavaleiros de São João.

6.A Ordem dos Cavaleiros de Malta.

7.A Ordem dos Cavaleiros do Santo Sepulcro.

8.A Igreja Oculta do Santo Graal.

9.A Ordem Rosacruz

10.A Fraternidade Hermética da Luz.

11.A Sagrada Ordem da Rosa Cruz de Heredom.

12.A Ordem do Sagrado Arco Real de Enoch.

13.O Antigo e Primitivo da Maçonaria (33 graus).

14.O Rito de Memphis (97 graus).

15.O Rito de Mizraim (90 graus).

16.O Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria (33 graus).

17.O Rito de Swedenborg da Maçonaria.

18.A Ordem dos Martinistas.

19.A Ordem do Sat Bhai.

20.A Ordem Hermética da Golden Dawn,

e muitas outras ordens de igual mérito, se de menos fama. A O.T.O. não inclui a AA, com cujo augusto corpo está, porém, em estreita aliança.”

O Manifesto da M.·.M.·.M.·. também deu o seguinte esquema de organização da Ordem:

O    Minerval

I      M.

II     M ..

III   M

 P∴M∴

IV   Companheiro do Sagrado Arco Real de Enoch. Príncipe de Jerusalém. Cavaleiro do Oriente e do Ocidente.

V     Príncipe Soberano da Rosa Cruz. (Cavaleiro do Pelicano e Águia.)
Membro do Senado dos Cavaleiros Filósofos Herméticos Cavaleiros da Águia Vermelha.

VI   Ilustre Cavaleiro (Templário) da Ordem de Kadosch e Companheiro do Santo Graal. Grande Inquisidor Comandante, Membro do Grande Tribunal. Príncipe do Segredo Real.

VII  Ilustríssimo Soberano Grande Inspetor Geral.

Membro do Grande Conselho Supremo.

VIII Perfeito Pontífice dos Illuminati.

IX   Iniciado do Santuário da Gnose.

X     Rex Summus Sanctissimus (Supremo e Santíssimo Rei).

A edição de setembro de 1912 do “The Oriflame” incluiu uma listagem similar de um sistema de dez graus:

I – Prüfling [Probacionista]
II – Minerval
III – Johannis-(Craft-) Freimauer [Maçom de Ofício]
IV – Schottischer-(Andreas-) Mauer [Maçom escocês]
V – Rose Croix-Mauer
VI – Templer-Rosenkreuzer
VII – Mystischer Templer
VIII – Orientalisher Templer
IX – Vollkommener Illuminat [Perfeito Iluminatus]
X – Supremus Rex

Desta forma, em 1912, Crowley e Reuss haviam condensado o sistema da Arte e dos altos graus da Maçonaria em um sistema viável de dez graus numerados que incorporava os ensinamentos e simbolismo de um certo número de sociedades ocultistas e místicas. Os três graus da Academia Masonica de Kellner formavam os graus VII°, VIII° e IX° deste sistema. O décimo grau (X°), “Rex Summus Sanctissimus”, ou “Supremus Rex”, designava o Grande Mestre Geral Nacional de um determinado país, região ou grupo linguístico. A suprema autoridade da Ordem, internacionalmente, era chamada de Frater Superior ou Cabeça Externa da Ordem (“Outer Head of the Order” – O.H.O.).

Os Grandes Mestres Gerais Nacionais tinham a autoridade para indicar seus próprios representantes, chamados “Vice-Reis”, para outros países do mesmo idioma dominante. Vice-Reis podiam ainda serem levados ao X° pelo O.H.O. Dos Grandes Mestres Gerais Nacionais esperava-se que conduzissem os negócios da O.T.O. de acordo com a Constituição da O.T.O., mas em grande escala fora da supervisão diária do quartel-general internacional ou “Escritório Central”.

O Manifesto da M.·.M.·.M.·. incluía fotografias da mansão de Crowley na Escócia, chamada Boleskine, a qual servia como “Casa de Instrução” da Ordem. Incluía também uma lista de obrigações financeiras e taxas para cada grau, bem como uma lista de “taxas de afiliação”, mediante as quais os maçons poderiam afiliar-se diretamente no nível correspondente ao seu próprio grau na Maçonaria. Essas listas foram reimpressas na edição de 1914 do “The Oriflamme”, junto com os títulos de graus do Manifesto de Crowley, traduzidas para o alemão.

Em 1912 o sistema da O.T.O., apesar de suas várias influências, permanecia principalmente maçônico. Na Edição de Jubileu do “The Oriflamme”, Reuss definiu a O.T.O. “não como uma ordem pura e simplesmente maçônica, mas cada membro de nossa Ordem, homem ou mulher… deve avançar através dos graus de ofício da Francomaçonaria, mesmo aqueles dos mais altos graus da Francomaçonaria, antes de serem iluminados e iniciados membros de nossa Ordem.” De qualquer forma, a Grande Loja Unida da Inglaterra, com quem Crowley tecnicamente possuía aliança, recusou-se a aceitar de iniciação a Graus de Ofício na Inglaterra fora de sua jurisdição e recusou-se a admitir mulheres na Francomaçonaria. Portanto, Crowley incluiu o seguinte texto em seu Manifesto da M.·.M.·.M.·.:

A O.T.O., embora uma Academia Masonica, não é um Corpo Maçônico, posto não serem os “segredos” entendidos da mesma forma na qual aquela expressão é normalmente compreendida; e portanto, de modo algum, conflita com os justos privilégios da Grande Loja Unida da Inglaterra, de ou qualquer Grande Loja na América ou em outro lugar que seja reconhecida como tal, nem os infringe.

Em 15 de fevereiro de 1913, Crowley adotou uma Constituição para a M.·.M.·.M.·., submetida à Constituição Geral da O.T.O.. Em 19 de março de 1913, Crowley e Reuss deram patente a James Thomas Windram (Mercurius, 1877–1939) como representante oficial da O.T.O. na África do Sul. Posteriormente, em 1913, em visita à Moscou, Crowley compôs a Missa Gnóstica, a qual era “preparada para o uso da O.T.O., a cerimônia central de sua celebração pública e particular, correspondendo à Missa da Igreja Católica Romana.”

A I Guerra Mundial estourou em 28 de julho de 1914. Crowley mudou-se para Nova Iorque em outubro daquele mesmo ano; no ano seguinte, trabalhou como escritor para os periódicos de George Sylvester Viereck, “The Fatherland” e “The International”, e como editor-chefe posteriormente. Em dezembro de 1914, Crowley indicou Charles Stansfeld Jones (Parzival, 1886 – 1950) como Soberano Grande Inspetor Geral VII° e seu representante pessoal na cidade de Vancouver. Em março de 1915, Windram indicou Ernest W. T. Dunn VII° (Maximus) como Vice-Rei em Exercício para a Australásia.

Apesar de seu anúncio anterior sobre os Graus de Ofício, no Manifesto da M.·.M.·.M.·., Crowley permanecia desconfortável em relação às características maçônicas da O.T.O., por um número adicional de razões:

• Em contraste com Reuss, Crowley acreditava que mulheres não poderiam ser iniciadas como francomaçons; no entanto, ele pensava que elas deveriam ser aptas a se iniciar na O.T.O.

• Ele estava frustrado como as elaboradas preparações requeridas para a execução das iniciações maçônicas e com o tamanho dos rituais maçônicos e seu excessivo palavrório. Crowley via esses fatores como impedimentos no sucesso da implantação de um trabalho entre pessoas modernas comuns.

• Ele acreditava que o conteúdo simbólico dos rituais maçônicos estava truncado a ponto de ser inútil.

• Desejava utilizar o sistema da O.T.O. para ajudar na divulgação dos ensinamentos de Thelema.

Por essas razões, Crowley se dedicou a preparar rituais revisados que transmitissem o significado do Ofício e os altos graus de forma concisa e dramática, os quais seriam adequados para a iniciação de homens e mulheres, que não infringissem os justos privilégios Grande Loja Unida. da Inglaterra, e que transmitiria os ensinamentos básicos de Thelema. Crowley fez isso por volta de 1915 e adotou os rituais revisados para uso em sua própria seção da O.T.O., o M∴M∴M∴.

Crowley escreveu sobre seus rituais revisados a Arnold Krumm-Heller, em 22 de junho de 1930:

Reuss tinha o hábito de iniciar pessoas com os pífios esqueletos de rituais resumidos provenientes da Francomaçonaria Continental. Não havia, para deixar claro, nenhuma ordem ou decência neste procedimento. Ele percebia isto perfeitamente bem e era uma das razões pelas quais pedia-me para reconstruir o sistema de iniciação. Fiz um estudo comparativo de numerosos rituais a que tive acesso e produzi uma série deles que foi aperfeiçoada, incluindo o 6° grau (equivalente a Kadosh), e eles esses foram realizados em Londres com grande sucesso.

Devo fazer aqui uma pausa para sinalizar que a mudança fundamental e essencial, necessária em qualquer ritual com o qual eu tenha algo a fazer, é a completa renúncia ao culto dos deuses escravos. É impossível que homens livres reconheçam qualquer sistema que esteja ligado aos fetiches de selvagens cujo único motivo de ação é o medo nascido de sua ignorância.

Em 1915 ou 1916, Aleister Crowley escreveu “Uma Intimação a Respeito da Constituição da Ordem” (Liber CXCIV), a qual desenvolvia as ideias sobre a Constituição da O.T.O. escritas por Reuss em 1906, a Constituição da M.·.M.·.M.·. de Crowley, de 1913, e o Manifesto de Crowley. Gérard Encausse morreu em 25 de outubro de 1916. Charles Dété (Téder, 1855 – 1918) sucedeu Encausse e também parece ter recebido o grau X° da O.T.O. para a França, mas faleceu dois anos depois.

Em 1916, Reuss mudou-se para a Basileia, na Suíça. Enquanto estava lá, ele estabeleceu uma “Grande Loja e Templo Místico Anacional” da O.T.O., e a Ordem Hermética da Luz em Monte Veritá, com o termo “anacional” para indicar que não tinha nenhuma afiliação com algum país em específico. Monte Verità era uma comunidade utópica perto de Ascona, fundada em 1900 por Henri Oedenkoven e Ida Hofmann, que funcionava como centro para o que o historiador James Webb chamaria mais tarde de “Underground Progressista”.

Em 22 de janeiro de 1917 Reuss publicou um manifesto para sua Grande Loja Anacional, a qual foi chamada Verità Mystica. Na mesma data, ele publicou uma versão revisada de sua Constituição da O.T.O., de 1906, com uma “Sinopse dos Graus” e um resumo de “A Mensagem de Mestre Therion”. Nesta constituição revisada, Reuss incluiu muitos dos dispositivos da Constituição da M.·.M.·.M.·., de Crowley (1913). Porém, neste documento, como em muitos dos documentos de Reuss sobre a O.T.O., ele enfatizava o caráter maçônico da Ordem.

Em maio de 1917, a Loja de Crowley na Inglaterra foi invadida e fechada pela polícia, com acusação de “leitura da sorte” contra um de seus membros. Entretanto, o trabalho de Crowley para a publicação anti-britânica “The Fatherland”, de Viereck, pode ter levado as autoridades a suspeitarem de atividades antipatrióticas na Loja de Crowley. Todos os arquivos da Loja foram apreendidos. Crowley foi forçado a temporariamente abdicar de cargo de Grande Mestre em favor de C. S. Jones para facilitar a situação dos membros remanescentes. A Loja nunca foi completamente restaurada.

Em Ascona, Reuss organizou um “Congresso Nacional para Organização da Reconstrução da Sociedade em Linhas Cooperativas Práticas”, em Monte Veritá, de 15 a 25 de agosto de 1917. Esse Congresso incluiu leituras das poesias de Crowley (em 22 de agosto) e a recitação da Missa Gnóstica de Crowley (em 24 de agosto — apenas para membros da O.T.O.). O anúncio do Congresso declarava: “Há dois centros da O.T.O., ambos em países neutros, onde pesquisas podem ser realizadas por aqueles interessados nos objetivos deste congresso. Um é em Nova York (Estados Unidos da América), o outro é em Ascona (Suíça Italiana).” Crowley vivia em Nova Iorque naquela época; assim, evidentemente, ele e Reuss eram os únicos Cabeças Nacionais ativos da O.T.O. em 1917.

Reuss pediu que sua secretária, “J. Adderley” (Isabel Adderley Oedenkoven), enviasse uma cópia do anúncio, juntamente com uma cópia do Manifesto da M.·.M.·.M.·., de Crowley, à Grande Loja Unida da Inglaterra, na esperança de que a Grande Loja enviasse representantes. Isto não ocorreu, mas Willian Hammond, o Bibliotecário da Grande Loja, escreveu a Reuss após o congresso e pediu mais informações. Na correspondência de Reuss com Hammond, Reuss lembrou-o de que haviam se encontrado em 1914/15, e Reuss havia dado a ele cópias do Oriflamme e do Equinox, de Crowley, os quais, disse ele, “davam detalhes sobre a O.T.O.”.

Reuss estava claramente impressionado com Thelema. A Missa Gnóstica de Crowley, a qual Reuss traduzira para o alemão e fora recitada em seu Congresso Anacional, em Monte Verità, era explicitamente um ritual thelêmico. Em uma carta sem data para Crowley (recebida em 1917), Reuss fala, com excitação, que havia lido A Mensagem de Mestre Therion para seu grupo em Monte Verità e que estava traduzindo o Livro da Lei para o alemão. E ainda disse, “que estas notícias o encorajem! Estamos vivenciando sua Obra!”

Em 24 de outubro de 1917, Reuss entregou uma patente a Rudolf Laban de Laban-Varalya (1879-1958) e a Hans Rudolf Hilfiker-Dunn (1882 – 1955) para operarem uma Loja III° da O.T.O. em Zurique, chamada Libertas et Fraternitas. Em três de novembro de 1917, de Laban tornou-se Grande Mestre da Grande Loja Anacional Verità Mystica. Mais tarde, naquele mês, ele fechou a Verità Mystica e transferiu seu centro de operações para Zurique. Em março de 1918, Crowley publicou a Missa Gnóstica no The International. Reuss publicou, no mesmo ano, sua tradução da Missa Gnóstica para o alemão.

Em uma nota no fim de sua tradução da Missa Gnóstica, Reuss referia-se a si próprio, simultaneamente, como Soberano Patriarca e Primaz da Igreja Católica Gnóstica, e Núncio Gnóstico na Suíça para a Église Gnostique Universelle, reconhecendo Jean Bricaud (1881-1934) como Soberano Patriarca desta igreja. A publicação desse documento pode ser vista como o nascimento da E.G.C. como uma organização independente, sob a tutela da O.T.O., com Reuss como seu primeiro Patriarca.

A I Guerra Mundial terminou em 11 de novembro de 1918. De Laban deixou a Suíça em novembro. Em fevereiro de 1919, a Loja Libertas et Fraternitas rompeu sua ligação com a O.T.O. e tornou-se estritamente uma Loja Maçônica. Posteriormente, regularizou-se com a Grande Loja Suíça Alpina. Mesmo que nenhum corpo tenha restado na Suíça, Reuss continuou a conferir graus da O.T.O. a indivíduos. Enquanto Reuss persistia afirmando a autoridade maçônica da O.T.O., Crowley continuava a afastar a M.·.M.·.M.·. da Francomaçonaria. Em outubro de 1918, Crowley preparou outra revisão substancial dos rituais internos da Ordem, desta vez abandonando o termo “Maçonaria” e os emblemas, signos, identificadores, etc., característicos dos graus do Ofício. Ele apresentou seus rituais revisados a Reuss para a adoção pela Ordem como um todo. Em março de 1919, Crowley publicou The Equinox, Volume III, No. I (o “Blue Equinox”), o qual continha uma série de documentos importantes da O.T.O., incluindo:

• Liber LII: O Manifesto da O.T.O.

• Liber CXCIV: Uma Intimação a Respeito da Constituição da Ordem

• Liber CI: Uma Carta Aberta a Todos os Que Desejarem Unir-se à Ordem

• Liber CLXI: Sobre a Lei de Thelema

• Uma versão revisada do Liber XV: A Missa Gnóstica

O Liber LII: O Manifesto da O.T.O., de Crowley, foi baseado quase que palavra por palavra no Manifesto da M.·.M.·.M.·,. de 1913. Saudações thelêmicas foram adotadas, referências aos oficiantes foram atualizadas, referências aos “guinéus” foram convertidas a seus equivalentes em dólares, os nomes de duas organizações colaboradoras foram apagados (A Ordem Rosacruz e a Ordem Hermética da Golden Dawn), a tabela de taxas e as fotografias de Boleskine foram retiradas e a frase “Ela [a O.T.O.] de forma alguma infringe os justos privilégios de Corpos Maçônicos devidamente autorizados ” foi adicionada após a listagem de organizações colaboradoras, e o anúncio maçônico acima citado foi mudado para:

A O.T.O., embora uma Academia Masonica, não é um Corpo maçônico, na medida em que não são os ‘segredos’ entendidos da mesma forma na qual aquela expressão é normalmente compreendida; e então de nenhuma maneira há conflitos com, ou infração dos privilégios justos da Grande Loja Unida da Inglaterra, ou de qualquer Grande Loja na América ou de qualquer outro lugar reconhecido dessa forma.

Em 10 de maio de 1919 Reuss outorgou uma Patente a Hans Rudolph Hilfiker, Dr. E. Pargaetzi, R. Merlitschek e M. Bergmaier para formarem um Supremo Conselho do Rito Escocês de Cernau na Suíça, em Zurique. Na mesma data, Reuss concedeu um documento chamado “Gauge of Amity” a Matthew McBlain Thomson, fundador da malfadada “Federação Maçônica Americana”. O documento reconhecia Thomson como membro do IX° da O.T.O. Em 18 de setembro de 1919, Reuss foi reconsagrado por Bricaud pelo recebimento da “Sucessão da Antióquia” e renomeado como “Núncio Gnóstico” na Suíça para a Église Gnostique Universelle de Bricaud.

Crowley retornou à Inglaterra em dezembro de 1919. Em 1920, Reuss publicou seu Programa de Construção e Princípios Orientadores para os Gnósticos Neocristãos: O.T.O. Neste documento, Reuss apresenta suas ideias para uma sociedade utópica (altamente regimentada). Os princípios desta sociedade seriam baseados nas ideias de Thelema (O Livro da Lei e aforismos do Mestre Therion eram citados e explicados), juntamente com ideias mais tradicionais do Rosacrucianismo, Gnosticismo e Yoga, e as ideias sociopolíticas “progressistas” prevalecentes em Monte Verità.

Em 17 de julho de 1920, Reuss participou do Congresso da “Federação Mundial da Francomaçonaria Universal”, ocorrido na Loja Libertas et Fraternitas, em Zurique. Esta conferência foi realizada para retomar a “Conferência Internacional Maçônica e Espiritualista” de Papus em Paris, de 1908. Reuss, com autorização de Bricaud, advogou pela adoção da religião da Missa Gnóstica de Crowley como “a religião oficial de todos os membros da Federação Mundial da Francomaçonaria Universal que possuam o 18° do Rito Escocês”. Os esforços de Reuss nesse sentido falharam, e teve discussões com Matthew McBlain Thomson (que fora eleito Presidente Honorário da Federação Maçônica Internacional) sobre questões de jurisdição. Reuss abandonou o congresso após o primeiro dia.

C. S. Jones havia se retirado da O.T.O. em 1919, mas continuou a corresponder-se com Reuss e, em 10 de maio de 1921, Reuss designou Jones como X° para os Estados Unidos da América do Norte. Na mesma data, designou Heinrich Tränker (Recnartus, 1880-1956), que liderava várias organizações esotéricas do movimento chamado “Pansophia”, como X° para a Alemanha.

Em 30 de julho de 1921, Reuss emitiu outro “Gauge of Amity”, desta vez para H. Spencer Lewis, o fundador da A.M.O.R.C., a organização Rosacruciana com sede em San Jose (Califórnia/EUA). Este documento também reconhecia Lewis como um membro do VII° da O.T.O. Crowley havia conhecido Lewis antes, em 1918, na cidade de Nova Iorque, e não ficou impressionado com ele. Reuss retornou à Alemanha em setembro de 1921, estabelecendo-se em Munique. Em 3 de setembro de 1921, Reuss patenteou Carl William Hansen (Kadosh, 1872 – 1936) como X° para a Dinamarca. Em outubro de 1921, dada a retirada de Dunn, Crowley apontou Frank Bennett (Dionysus, 1868 – 1930) como Vice-Rei da Austrália.

A Sucessão de Crowley

​Há algumas razões para acreditar que Reuss sofreu um derrame na primavera de 1920, mas não há certeza sobre isso. Crowley escreveu a W. T. Smith em março de 1943:

o antigo O.H.O., após este primeiro ataque de paralisia, entrou em pânico pelo trabalho a ser realizado… Ele rapidamente emitiu diplomas honorários do Sétimo Grau a várias pessoas, algumas das quais não tinham direito a nada e alguns deles eram apenas vigaristas baratos.

Logo após nomeá-lo como seu Vice-Rei para a Austrália, Crowley parece haver correspondido com Frank Bennett e discutido com ele suas dúvidas sobre a capacidade de Reuss em, efetivamente, continuar a governar a Ordem. Parece que Reuss descobriu sobre essa correspondência; ele escreveu para Crowley uma furiosa resposta defensiva em 9 de novembro de 1921, na qual ele parecia distanciar a si próprio e a da O.T.O. de Thelema, a qual ele havia, como visto acima, abraçado. Crowley respondeu à carta de Reuss em 23 de novembro de 1921 e afirmou: “É de minha vontade ser o O.H.O. e Frater Superior da Ordem e eu me utilizo da sua renúncia — para proclamar-me como tal.” Ele assinou a carta como “Baphomet O.H.O.”. No registro de seu diário de 27 de novembro de 1921, Crowley escreveu: “Eu proclamei a mim mesmo como Frater Superior O.H.O. da Ordem dos Templários Orientais.” Reuss morreu em 28 de outubro de 1923 e.v.

Em suas Confissões, Crowley diz que Reuss “renunciou ao ofício [de O.H.O.] em 1922 em meu favor.” Em uma carta a Heinrich Tränker, datada de 14 de fevereiro de 1925, Crowley afirmou o seguinte:

Reuss era de temperamento incerto, e, de muitas formas, instável. Em seus últimos anos ele parece ter perdido completamente seu juízo, chegando a acusar O Livro da Lei de ter tendências comunista, ideia que não poderia ser mais absurda. Ainda assim, parece que ele tomou algumas decisões acertadas, como ter nomeado a você e a Frater Achad, e designado a mim, em sua última carta, como seu sucessor.

Em uma carta a Charles Stansfeld Jones, datada de Sol em Capricórnio, Anno XX (12/1924 – 01/1925), Crowley disse “na última carta do O.H.O. para mim, ele convidou-me a ser seu sucessor como O.H.O. e Frater Superior.” A carta de Reuss designando Crowley como seu sucessor como O.H.O. jamais foi encontrada, mas nenhum documento crível faz face a que Reuss teria indicado qualquer sucessor alternativo.

A O.T.O. Dirigida por Crowley

Aleister Crowley serviu como Cabeça Externa da Ordem de 1922 até sua morte em dezembro de 1947. O primeiro ato de Crowley como O.H.O. foi reconfirmar as patentes de Jones e Tränker como Grandes Mestres para a América do Norte e Alemanha, respectivamente. Tränker, por recomendação de Jones, convidou Crowley a formalmente assumir a liderança da O.T.O., bem como de várias outras organizações, incluindo o movimento Pansófico, em uma conferência que ocorreria em Hohenleuben, perto de Weida, no verão de 1925. Os outros participantes da conferência eram: Heinrich e Helene Tränker, Karl Germer (Saturnus, 22/01/1885 – 25/10/1962) – nesta época secretário e editor de Tränker –, Albin Grau, Eugen Grosche, Martha Künzel, Henri Birven, um cavalheiro chamado Hopfer, Crowley e seus companheiros Dorothy Olsen, Leah Hirsig, Normal Mudd, e outros.

Os resultados desta conferência foram variados. Os participantes ficaram divididos pelos ensinamentos de Crowley e pelo Livro da Lei, o qual era largamente desconhecido (apenas recentemente fora traduzido para o alemão). Houve conflitos pessoais também. Fraulein Künzel e Herr Germer postaram-se ao lado de Crowley. Herr Tränker, Grau, Hopfer e Birven decidiram manter a Loja Pansófica independente de Mestre Therion. Herr Grosche originalmente ficou do lado de Crowley, mas brigou com Germer e decidiu permanecer independente. Após o fechamento da Loja Pansófica, em 1926, Grosche reagrupou alguns ex-pansofistas para fundar a Fraternitas Saturni. A Fraternitas Saturni reconheceu o status de Crowley como um profeta e aceitou a Lei de Thelema de uma forma modificada, mas Grosche insistiu em manter-se independente da O.T.O. e sob sua própria autoridade, e não de Crowley. A Fraternitas Saturni ainda atua na Alemanha, Canadá e outros países e não se apresenta como sendo a O.T.O.

Tränker aparentemente tentou obter para si o título de O.H.O. da O.T.O. em 1925, mas parece não ter sido largamente reconhecido como tal e cessou seus esforços neste sentido em 1930, quando ele e H. Spencer Lewis começaram a trabalhar diretamente (mas sem sucesso) para o estabelecimento de um ramo alemão da A.M.O.R.C.

A Loja Agapé

​A Loja Agapé n° 1 foi fundada em 1915, em Vancouver (Colúmbia Britânica/Canadá), sob a autoridade de Jones e Crowley. Nos anos 30, Wilfred Talbot Smith (1885-1957), um membro patenteado da Loja Agapé n° 1 mudou-se de Vancouver, com instruções de Crowley, para trabalhar com Jane Wolfe (1875-1958), que havia sido estudante de Crowley em Cefalú, de modo a estabelecer a Loja Agapé n° 2 em Los Angeles (Califórnia/EUA). Smith e Wolfe criaram um grupo em Hollywood, Califórnia, e, juntamente com Regina Kahl (1891-1945), começaram a celebrar a Missa Gnóstica semanalmente em um domingo, 19 de março de 1933. A Loja Agapé n° 2 teve seu primeiro encontro em 1935. A Loja Agapé contribuiu grandemente com os esforços de Crowley para publicações e Crowley nomeou Smith (Ramaka) como X° para os E.U.A. Posteriormente a Loja Agapé n° 2 mudou-se para Pasadena, Califórnia, e foi liderada por John W. “Jack” Parsons (Belarion, 1914 – 1952), um respeitado engenheiro químico e pioneiro aeroespacial. Parsons foi fundamental na fundação do Laboratório de Propulsão a Jato do Instituto de Tecnologia da Califórnia e da Aerojet General.

Karl Germer

​Quando a II Guerra Mundial estourou em 1939, as comunicações internacionais ficaram cada vez mais conturbadas e as viagens de civis eram limitadas. Crowley ficou muito dependente de seus representantes estrangeiros, estando impossibilitado de viajar. Karl Germer, o representante alemão de Crowley, foi preso pela Gestapo e confinado em um campo de concentração nazista por “buscar discípulos para o residente estrangeiro, francomaçom de alto grau, Crowley”. Foi liberado no início da Guerra, graças aos esforços do Consulado Americano, Germer viajou para os Estados Unidos onde, como Grande Tesoureiro-Geral e segundo na linha de comando de Crowley, conduziu muitos dos negócios da O.T.O. Em 14 de março de 1942, Crowley escreveu a Germer: “Devo indicá-lo como meu sucessor como O.H.O. […] Uma mudança completa na estrutura da Ordem e em seus métodos é necessária. O segredo é a base, e você deve selecionar as pessoas certas” Os outros ramos europeus da O.T.O. foram completamente destruídos ou mantidos no underground durante a Guerra. Os ramos latinoamericanos da F.R.A., de Krumm-Heller, mantiveram um discreto contato com Germer até o início da década de 60.

Ao final da II Guerra Mundial, em 1945, apenas a Loja Agapé em Pasadena, Califórnia, ainda funcionava. Havia iniciações isoladas da O.T.O. em várias partes do mundo. Apesar de Crowley receber visitas de membros da O.T.O. na Inglaterra, nenhum trabalho de Loja foi conduzido desde o ataque policial em 1917. As iniciações foram muito raras fora da Califórnia. Krumm-Heller, no México, conduzia iniciações da O.T.O., mas enviou um candidato, Dr. Gabriel Montenegro (Frater Zopiron ou Theophilos) à Califórnia para iniciar-se.

Grady McMurtry

​Durante a II Guerra Mundial, dois membros da O.T.O. Californiana, Grady Louis McMurtry (18/10/1918-12/06/1985) e Frederick Mellinger (Merlinus, 1890-1970) (Mellinger era um refugiado da Alemanha nazista) viajaram à Europa em tarefas militares. McMurtry já havia estado lá e visitado Crowley em várias ocasiões. Mellinger visitou Crowley após McMurtry ter retornado aos Estados Unidos.

Houve um bom entendimento entre Crowley e McMurtry, e Crowley respeitava a experiência militar de McMurtry. Em 1943, Crowley pessoalmente conferiu o IX° da O.T.O. à McMurtry e fez dele Soberano Grande Inspetor Geral da Ordem, dando-lhe o Nome Mágico que usaria a partir de então: Hymenaeus Alfa, 777.

Em 1944, Crowley começou a discutir com McMurtry a possibilidade de ele assumir o “Califado”. Crowley escreveu a McMurtry em 28 de setembro de 1944: “Espero que você prefira meu plano para sua carreira como meu Fides Achades, alter ego, Califa & assim por diante.” Em 21 de novembro de 1944, ele escreveu novamente a McMurtry:

‘O Califado’. Você deve perceber que não importa quão perto estejamos a observar um sujeito, eu devo pensar em premissas totalmente diferentes daquelas concernentes à Ordem. Um dos (tão poucos) comandos que me foram dadas foi ‘Não confie em um estranho: não falhe com um herdeiro’. Isto tem sido bem diabólico para mim. Fr.·. [Saturnus] é, é claro, o Califa natural; mas há muitos detalhes acerca da política de normas ou de trabalho que escapam a ele. De qualquer forma, ele pode ser apenas um recurso improvisado, por causa de sua idade; tenho de procurar o sucessor dele. Isso tem sido um Inferno; tantos têm vindo com promessas maravilhosas, apenas para, depois, dar com os burros n’água […] Mas – e aqui é que você se perde, de todo, no meu ponto – eu não penso em você deitado em uma encosta verdejante com adoráveis carneiros, tocando uma flauta! Ao contrário. Sua própria vida, ou ‘sangramento’, é o tipo de iniciação que busco como base primordial para o Califa. Pois — digamos daqui a 20 anos, o Cabeça Externo da Ordem deve, entre outras coisas, ter tido a experiência da guerra como é de fato hoje.

O título “Califa”, ainda que tenha apelação a algum senso de humor dos dois como uma brincadeira com uma abreviação para “Califórnia” (o Estado de residência de McMurrtry e localização da Loja Agapé), provém da palavra árabe Khalifa, que significa “delegado”. Foi utilizada historicamente no antigo Islã para designar o sucessor do Profeta, o Comandante mundial da Fé Islâmica. O uso do termo, por Crowley, aplicado a Germer e McMurtry, era em paralelo com a O.T.O.

Em 1946, Crowley confiou a McMurtry documentos de autorização emergencial para tomar o controle de todo o trabalho da Ordem na Califórnia, o que incluía o único Corpo funcional da O.T.O. naquela época. Crowley também nomeou McMurtry como seu representante pessoal nos E.U.A., cuja autoridade deveria ser considerada como a do próprio Crowley. Essas duas patentes, datadas respectivamente de 22 de março de 1946 e 11 de abril de 1946, necessitavam apenas da aprovação, veto ou revisão de Germer. Germer foi muito bem informado das patentes de McMurtry por Crowley, posto haver comparecido ao encontro da Loja Agapé no qual McMurtry foi-lhe apresentado. Além disso, em uma carta a Germer, datada de 19 de junho de 1946, Crowley informava a Germer que “a única limitação do poder dele [McMurtry] na Califórnia é que qualquer decisão que ele tome está sujeita à sua revisão ou veto”, o que retirava a necessidade de aprovação prévia por Germer.

Em seis de junho de 1947, Crowley escreveu a Germer:

Você parece em dúvida também quanto à sucessão. Nunca houve quaisquer questões a esse respeito. Desde sua reaparição, você é o único sucessor de que tenho pensado desde então. Porém, tenho tido a ideia de que, tendo-se em vista a dispersão de tantos membros, você deveria achar útil nomeou um triunvirato para trabalhar sob seu comando. Minha ideia é Mellinger, McMurtry e, eu suponho, Roy [Leffingwell], apesar de eu sempre ter estado um pouco duvidoso em relação à confiabilidade deste último.

Em 17 de junho de 1947, seis meses antes de sua morte, Crowley escreveu a McMurtry e informou-o de que, apesar de Germer ser seu sucessor como Cabeça da O.T.O., McMurtry deveria preparar-se para suceder Germer.

Crowley, apesar de confiar na habilidade de Karl Germer em governar a Ordem como seu sucessor, evidentemente não confiava em sua habilidade de encontrar e designar um sucessor apropriado. No que parece ter sido uma medida de contingência adicional para a possibilidade de McMurtry morrer ou ficar incapacitado, Crowley também avisou a Mellinger para que se mantivesse pronto como um possível sucessor de Germer, em uma carta datada de 15 de julho de 1947. No entanto, Mellinger não recebeu nenhuma atribuição do tipo que foi dada a McMurtry, e Crowley nunca usou o termo “Califa” em referência a Mellinger.

A O.T.O. Dirigida por Germer

​Crowley morreu em 1° de dezembro de 1947 e, de acordo com sua vontade, Karl Germer tornou-se O.H.O. da O.T.O., servindo do final de 1947 até sua morte em 1962. A Loja Agapé continuou no Sul da Califórnia até 1949, quando a Loja cessou seus encontros regulares. Os registros da Loja Agapé, consistentes das atas das reuniões, cópias das anotações de rituais, listas de membros iniciados em vários graus na O.T.O., correspondência e registros financeiros foram conservados por Jane Wolfe e por vários membros da Loja.

Depois da morte de Crowley, seu testamento foi executado, e os executores começaram a enviar o espólio a Germer. Germer recebeu a maior parte do material do espólio de Crowley e, eventualmente, levou-o consigo para sua residência final em Westpoint, no Condado de Calaveras (Califórnia/USA).

Germer era um homem quieto e recluso, acima de tudo interessado na publicação dos escritos de Crowley. Vários membros da O.T.O. ajudaram-no neste sentido, mas, ainda que tendo havido a promoção dos já iniciados, nenhuma nova iniciação foi realizada. Germer informou McMurtry e outros que a O.T.O. deveria ser incorporada e governada por um triunvirato de oficiais, mas essa incorporação jamais foi efetivada sob a liderança de Germer. Germer concedeu uma patente a um Acampamento da O.T.O. na Inglaterra, sob a direção de Kenneth Grant, mas fechou o Acampamento e expulsou Grant da O.T.O. em 20 de julho de 1955, quando descobriu que Grant havia se associado à Fraternitas Saturni, de Grosche, que havia circulado um manifesto para uma nova Loja da O.T.O. sob autoridade conjunta de Germer e Grosche e que havia começado a modificar os rituais da O.T.O., tudo isso sem a ciência de Germer.

Germer também teve interesse nos esforços de Hermann Metzger (Paragranus, 1919–1990) na Suíça. Metzger era um estudante de um membro sobrevivente da seção suíça de Reuss da O.T.O., chamada Felix Lazerus Pinkus (1881–1947), mas sem ligações com a O.T.O. de Crowley. Germer designou Mellinger para supervisionar a regularização da O.T.O. de Metzger para O.T.O. de Crowley, mas Germer e Metzger se divergiram ao final da vida de Germer. Após a morte de Germer, Frederic Mellinger escreveu que Metzger havia falhado em seguir o programa de instruções estabelecido para Metzger, por Germer, sob a tutela de Mellinger. De acordo com uma fonte, Metzger alegava ter patenteado Gabriel Montenegro como X° para os Estados Unidos. Porém, Montenegro nunca alegou tal autoridade e jamais mencionou quaisquer nomeações da O.T.O., provenientes de Metzger, para seus colegas da O.T.O. nos EUA.

Os membros da O.T.O. na Califórnia buscaram ativamente influenciar Germer para que este reabrisse o acesso público à O.T.O. Expressaram preocupação quanto a isso no sentido de que o fracasso em iniciar novos membros da O.T.O. resultaria na completa dissolução da Ordem. Em 1959, McMurtry convocou uma reunião em Los Angeles, para a qual foram convidados os membros da Loja Agapé e outros, com o intuito de criar uma frente unificada para pressionar Karl Germer a retomar as iniciações da O.T.O. McMurtry estava pronto para invocar as autorizações dadas a ele por Crowley para dar suporte à sua ideia. Dr. Montenegro opôs-se à ideia, e os outros não lhe deram nenhum suporte; a ideia foi abandonada. Montenegro escreveu a McMurtry em 21 de novembro de 1960 para documentar sua oposição à ideia.

Germer autorizou McMurtry a formar o núcleo de um novo acesso público à O.T.O., mas Germer e McMurtry discordaram acerca de um empréstimo pessoal e outros assuntos. Quaisquer diferenças que tivessem, jamais houve a mínima sugestão de que Germer tenha considerado vetar ou revisar as patentes dadas a McMurtry, por Crowley. McMurtry perdeu seu emprego na Califórnia devido a problemas de saúde e mudou-se para Washington (capital dos EUA) em março de 1961. Lá ele lecionou Ciências Políticas na George Washington University enquanto trabalhava como Analista de Gestão para o governo dos EUA. Ele também dirigiu a Washington Shakespeare Society.

Interregnum

Germer morreu em 25 de outubro de 1962 sem ter designado um sucessor. O testamento de Germer nomeava sua filha, Sascha, e Frederick Mellinger como os executores de seu espólio, com relação à propriedade deixada para a O.T.O. Sascha era uma senhora idosa com a mente já comprometida e que tinha se afastado dos membros remanescentes da O.T.O. na Califórnia. O espólio de Germer nunca foi executado. Alguns membros de alto grau, incluindo Grady McMurtry, não foram notificados da morte de Germer por vários anos, causando um grande atraso antes que a questão da sucessão na liderança da O.T.O. fosse resolvida apropriadamente.

Metzger, na Suíça, publicou uma alegação de ser o Cabeça Externa da Ordem, baseada em uma eleição particular que teria se dado no dia 06 de janeiro de 1963, na própria Suíça. Membros de alto grau da O.T.O. de fora da Suíça, inclusive Frederick Mellinger, quem Germer nomeado como mentor de Metzger, não haviam sido informados da suposta eleição de Metzger até esta alegação. Uma cópia do manifesto de Metzger foi enviada a Wilfred Smith, que já tinha morrido em 1957. Metzger não foi aceito, em geral, como Cabeça da Ordem fora de seu próprio grupo. Sascha fez uma tentativa de enviar o material de Germer sobre a O.T.O. para Metzger, mas foi impedida por uma carta de Mellinger datada de 25 de setembro de 1963, que denunciava Metzger como uma fraude. Metzger, posteriormente, incorporou seu sistema da O.T.O. como parte de uma nova organização de sua própria criação, a “Ordo Illuminatorum”, a qual pretendia ser um renascimento da ordem dos Illuminati. Metzger morreu em 1990.
Kenneth Grant (nasc. 1924) também tentou alegar ser o Cabeça Externa da Ordem, mas ele já tinha sido expulso por Germer. Grant questionou sua expulsão, alegando que jamais havia reconhecido Karl Germer como Cabeça da O.T.O.. Mesmo assim, os próprios escritos de Grant nos anos 50, em particular o manifesto da Loja Nova Ísis, referem-se a Frater S (Saturnus, i.e. Karl Germer) como líder internacional da O.T.O. A organização de Grant diz que a O.T.O. deixou de ser uma organização de membros no sentido tradicional de ter Lojas e conferir graus cerimonialmente. A organização de Grant também ignora a Missa Gnóstica, que é, de acordo com Crowley, “a cerimônia central das celebrações públicas e particulares [da O.T.O.].”

A O.T.O. Dirigida por McMurtry

​Quando McMurtry ficou ciente da condição crítica na qual se encontrava a Ordem após a morte de Germer, ele foi impelido a utilizar seus documentos de emergência dados por Crowley e assumir o título de “Califa da O.T.O.”, tal como especificado nas cartas de Crowley para ele na década de 40. Como duas testemunhas que ele acreditava serem necessárias para tal ato, escolheu o Dr. Israel Regardie (1907-1985) e Gerald Yorke (1901-1983). McMurttry referiu-se a esses dois como os “Olhos de Hórus”, como os dois mais proeminentes estudantes remanescentes de Crowley. Ele os avisou de seus planos de reconstruir a O.T.O. usando as cartas-patentes de Crowley e requisitou sua ajuda, a qual foi oferecida. McMurtry completou a ativação de seu Califado em junho de 1969, com uma carta ao suíço Hermann Metzger.

Com a ativação do Califado, os membros remanescentes da O.T.O. dos anos de Crowley e Germer foram convidados a unir-se a McMurtry de modo a continuar as operações regulares da O.T.O.. Naquela época, havia menos que uma dúzia de membros remanescentes da antiga O.T.O. nos Estados Unidos. Soror Meral, Soror Grimaud, Mildred Burlingame e Gabriel Montenegro expressaram seus desejos de ver a O.T.O. aberta ao público em geral. Ray Burlingame havia morrido alguns anos atrás e o Dr. Montenegro morreu em 14 de julho de 1969, antes que uma reunião da organização pudesse acontecer. Frederick Mellinger havia reestabelecido contatos com a Sociedade Teosófica e estava, essencialmente, inativo na O.T.O. desde, aproximadamente, 1956, exceto por sua carta que impediu o a destinação de bens do espólio de Germer em favor de Metzger, em 1963. Mellinger morreu em 29 de agosto de 1970. Em 1969 e 1970, McMurtry, Burlingame e as Sorores Meral e Grimaud começaram a efetuar iniciações. Em 28 de dezembro de 1971, a Ordo Templi Orientis Association (Associação Ordo Templi Orientis) estava registrada no Estado da California como uma pessoa jurídica legalmente constituída.

Sacha Germer morreu em abril de 1975 e, em 1976, quando sua morte se tornou conhecida, a O.T.O. Association, sob direção de McMurtry, obteve um mandado judicial para que lhe fossem entregues os arquivos remanescentes da O.T.O. que ainda estavam sob sua custódia. O mandado foi concedido pela Corte Suprema do Condado de Calaveras, estado da Califórnia (E.U.A.), datada de 27 de julho de 1976, reconhecendo Grady McMurtry como representante autorizado da O.T.O.

Dirigida por McMurtry, como Califa ou Cabeça em exercício da O.T.O., várias tentativas foram feitas para se atraírem novos membros para a O.T.O. e para tornar a Ordem conhecida pelo público. Em 1970, a O.T.O. publicou as cartas do Tarot de Thoth, ilustradas por Lady Frieda Harris, com um endereço de Dublin (Califórnia/EUA). A resposta foi lenta, mas alguns poucos novos membros foram iniciados com os esforços centrados em Dublin, em The College of Thelema, e em São Francisco (Califórnia/EUA.), na Kaaba Clerk House. A atividade em São Francisco colapsou e um dos novos membros se retirou. A atividade continuou por dois anos em Dublin e então foi transferida pra Berkeley (Califórnia/EUA).

Em 1977, McMurtry realizou iniciações da O.T.O. em sua casa, em Berkeley, e começou um grupo lá. A O.T.O. foi criada sob as leis do Estado da Califórnia em 26 de março de 1970 e.v. Aqueles que alegavam ser membros ou eram conhecidos como membros antigos foram comunicados da formação desta nova corporação e foi-lhes dado um período para requererem a permanência como membros, de acordo com o precedente anterior estabelecido por Karl Germer. A corporação atendeu os critérios de isenção de Impostos Federais, sendo registrada como entidade religiosa em 1982 – IRS Code(c)3.

Desafios na Corte

​Um esforço considerável por Marcelo Ramos Motta (1931-1987) foi feito para assumir o controle da O.T.O. com o nome de Sociedade Ordo Templi Orientis. Motta havia sido um discípulo pessoal de Karl Germer na A∴A∴ por alguns anos, mas jamais obteve formalmente uma patente para iniciar ou abrir uma Loja. De fato, ele jamais foi formalmente iniciado na O.T.O. Após a morte de Germer, Motta proclamou-se como sucessor de Germer e formou um grupo da O.T.O. em seu país natal, o Brasil. Motta havia primeiro reconhecido Kenneth Grant como líder da O.T.O., mas rescindiu este reconhecimento ao saber que Grant havia sido expulso por Germer. Motta terminou indo aos Estados Unidos para reclamar os direitos sobre a obra de Crowley. Ele primeiro processou a Samuel Weiser, Inc., editora de muitos dos trabalhos de Crowley por quebra de direitos autorais, alegando ser ele o único representante da O.T.O. de Crowley. Este caso foi decidido em favor da Samuel Weiser, Inc. pela Corte do Distrito do Maine (EUA). O juiz concluiu que não havia os poderes de representação da O.T.O., alegado por Motta, pois não havia os requisitos para demonstrar sua existência legal. A O.T.O., sob direção de McMurtry, não era parte deste caso e não foi considerada neste julgamento.

Durante os processos no Maine, a O.T.O., sob a direção por McMurtry, ajuizou uma ação contra Motta na Corte do 9ª Corte Distrital Federal de São Francisco. O caso de São Francisco foi concluído em 1985, com Motta perdendo novamente. A O.T.O., dirigida por McMurtry, foi reconhecida pela Corte como sendo a continuação da O.T.O. de Aleister Crowley e detentora exclusiva dos nomes, marcas, direitos autorais e outros direitos da O.T.O. McMurtry foi reconhecido como o líder legítimo da O.T.O. nos Estados Unidos. A decisão do 9° Distrito também reconhecia legalmente a O.T.O. dirigida por McMurtry como uma entidade associativa. Houve recurso contra a decisão, e ela foi mantida. Grady McMurtry morreu em 12 de julho de 1985, depois da decisão originária da 9ª Corte Distrital, mas o julgamento da apelação estabeleceu que a O.T.O. continuaria como uma corporação.

A O.T.O. Hoje

Mais do que designar um sucessor, McMurtry desejava que seu sucessor fosse escolhido mediante votação do Soberano Santuário da O.T.O., após sua morte. A eleição deu-se em 21 de setembro de 1985, com a participação dos dois membros remanescentes da Loja Agapé, e Frater Hymenaeus Beta foi eleito sucessor de Frater Hymenaeus Alpha como Califa e O.H.O. em exercício da O.T.O. Hymenaeus Beta continua em seu cargo até hoje.

No princípio de 1996, uma nova corporação foi fundada para tratar dos trabalhos da Grande Loja da O.T.O. nos Estados Unidos, enquanto a corporação já existente foi reorganizada como International Headquarters (Quartel-General Internacional) da O.T.O. Em 30 de março de 1996, Sabazius X° foi nomeado como Grande Mestre Geral Nacional para a Grande Loja dos EUA.

Reconhecimentos

​Além do material dos arquivos da O.T.O., o material publicado pelos seguintes protagonistas e pesquisadores históricos foi consultado para preparar este ensaio: Calvin C. Burt, W.B. Crow, Isaac Blair Evans, Antoine Faivre, S.E. Flowers, René Le Forestier, Joscelyn Godwin, Dr. J.A. Gottlieb, Ellic Howe, Francis King, Peter-Robert König, Helmut Möller, William G. Peacher, M.D., Martin P. Starr, John Symonds, M. McBlain Thomson, A.E. Waite, James Webb, and John Yarker.

As seguintes pessoas ajudaram de forma substancial com informações históricas e/ou críticas: William Breeze, Martin P. Starr, Parsival Krumm-Heller, Soror Meral, Soror Grimaud, Lon Milo DuQuette, James T. Graeb, Bjarne Salling Pedersen, and P.-R. König.

Notas

1.A Irmandade Hermética da Luz era uma sociedade mística que alegava descender dos corpos maçônicos/rosacruzes austríacos conhecidos como Os Fratres Lucis. Os Frartes Lucis, também conhecido como a Irmandade Asiática ou a Irmandade Iniciada das Sete Cidades da Ásia era derivada da antiga Ordem da Cruz Dourada e Rósea, alemã. A Irmandade Hermética da Luz também parece ter possuído conexões com a Irmandade Hermética de Luxor, que era uma sociedade mística que emergiu publicamente público na Inglaterra, em 1884, sob os auspícios de Max Theon (também conhecido como Louis-Maximilian Bimstein, 1850-1927). As origens da Irmandade Hermética de Luxor não são claras, mas há alguma evidência conectando-a à Irmandade de Luxor, que esteve envolvida com a fundação da Sociedade Teosófica, com a mencionada Fratres Lucis e com o espiritualismo inglês, homônimo, do final do séc. XIX. Nascido na Polônia, Theon viajou muito em sua juventude. No Cairo, tornou-se discípulo de um mago copta chamado Paulos Metamon. Theon foi para a Inglaterra em 1870, onde foi recrutado pelo luthier Peter Davidson (1842- 1916) para estabelecer um “Círculo Externo” da Irmandade Hermética da Luz. Eles se uniram em 1883 por meio de Thomas H. Burgoyne (também conhecido como Thomas Dalton, 1855-1895), que posteriormente escreveu um livro resumindo os ensinamentos básicos da I.H.L., chamado “A Luz do Egito”. A função deste “Círculo Externo” da I.H.L. era oferecer um curso por correspondência de ocultismo prático, o que seria mantido fora da Sociedade Tteosófica. Seu currículo incluía algumas seleções dos escritos de Hargrave Jennings e de Paschal Beverly Randolph.

2.P.B. Randolph (08/10/1825 – 29/06/1875) foi um conhecido médium, curandeiro e escritor, tendo, entre seus amigos pessoais, Abraham Lincoln, Hargrave Jennings, Kenneth McKenzie, Eliphas Levi, Napoleão III, Edward Bulwer-Lytton e o general Ethan A. Hitchcock. A Ordem de Randolph alegava descender da Ordem Rosacruz (por patente da “Suprema Grande Loja da França”) e ensinava curas espirituais, ocultismo oriental e princípios da regeneração da raça através da espiritualização do sexo.

3.Yarker foi eleito Grande Mestre Soberano Absoluto para o Rito Oriental de Mizraim em 1871. Ele se tornou Grande Mestre 96° do Soberano Santuário do Rito Antigo e Primitivo de Memphis para a Inglaterra, por ato de Harold J. Seymour em 8 de outubro de 1872. Seymour, por sua vez, recebeu suas cartas-patentes de Jacques Etienne Marconis de Negre em 21 de junho de 1862. Yarker recebeu cartas-patentes do Rito Escocês Antigo e Aceito de Cernau, emitidas por Theo. H. Tebbs, do Soberano Grande Conselho Combinado do Canadá daquele Rito em 12 de janeiro de 1884. Yarker foi eleito Grande Hierofante Imperial 97° do Rito de Memphis em 11 de novembro de 1902.

4.Aqueles que participaram do congresso foram: Theodor Reuss (representando o Soberano Santuário dos Ritos de Memphis e de Mizraim na Alemanha, a Grande Oriente do Rito Escocês na Alemanha e a Grande Loja Nacional dos Ritos Unidos Escocês, de Memphis e de Mizraim para a Grã-Bretanha e Irlanda), H.R. Hilfiker, R. Merlitschek, e M. Bergmaier (representando a Grande Oriente do Rito Escocês na Suíça [baseada em uma Patente de Reuss datada de 10 de maio de 1919]), Dr. E. Pargaetzi (representando o Soberano Santuário dos Ritos Unidos Escocês, de Memphis e de Mizraim para a França); A. Spilmer (representando a Grande Loja da Colômbia), H. Schütz (representando o Príncipe Alexander, da Grécia, Grande Protetor da Maçonaria Grega); John Anderson (representando a Grande Loja Nacional da Escócia); e Matthew McBlain Thomson (representando a Federação Maçônica Americana, a Grande Loja de Washington e a Grande Oriente de Cuba).

Amor é a lei, amor sob vontade.

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