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Faze o que tu queres será o todo da Lei.

O cérebro governa todo o corpo. De fato, é nesse órgão que se iniciam os comandos para tudo o que fazemos e percebemos, desde as funções mais básicas para a sobrevivência, como respiração, batimentos cardíacos, digestão, até as experiências mais complexas como os sonhos, o raciocínio matemático, a paixão, o ciúmes, o medo e as inspirações criativas. Não há nada na vivência humana que não saia ou não chegue até ele. A consciência que temos de nós mesmos e do nosso ambiente é apenas uma mínima fração do nosso processamento mental. Enquanto isso, a nossa mente vai trabalhando, elaborando e gravando os mais diversos conteúdos que nos permanecem despercebidos.

Um dos fatores para não percebermos ou deixarmos determinadas coisas passarem se deve a nossa agitação interna e nossa consciência só desperta para coisas novas ou importantes, pois apenas lidamos com quatro ou cinco unidades de informação nova ao mesmo tempo. Por exemplo, neste exato momento há cerca de 15 milhões de células nervosas que podem ligar-se para ativar novas redes em frações de segundos, mas a explosão do pensamento consciente consome muita energia e é por isso que nosso cérebro permite que informações passem sem que a mente consciente perceba.

O cérebro está conectado a todas as partes do corpo através de nervos, que funcionam como fios elétricos que conduzem impulsos de ida e de volta. Dentro do cérebro as coisas ficam muito mais complicadas, pois aqui os “fios” formam emaranhados que conectam os neurônios entre si de forma que um único neurônio pode se conectar a até 10.000 outros!

Ok! Mas o que isso tem a ver com a Magick?

Certo! Vejamos a Yoga: trata-se de um sistema filosófico-prático que conta com metodologias para a unificação dos diferentes elementos da psique humana. Em todas as técnicas desse sistema o praticante busca eliminar sua agitação e ter um domínio harmônico de si mesmo. Há inúmeras escolas de yoga, entretanto, todas possuem certos elementos-chave, dentre eles: exercícios de respiração (prânâyâmas), posturas (âsanas) e yoga meditacional. O yoga em si é basicamente caracterizado como um meio para alcançar efeitos mentais, emocionais e físicos.

Em práticas ritualísticas a disciplina e a concentração são sempre bem-vindas. Após um dia agitado, ou mesmo estando em um ônibus lotado, quando nos propomos a realizar algo mentalmente, requer-se concentração e disciplina: com esta ação não ativamos nosso cérebro para determinado proposito? Vejamos, ao adotarmos uma Asana, uma postura que dá conforto físico e compostura mental estamos trabalhando com as glândulas, os nervos, os músculos e todos os órgãos do corpo.

A pratica de asanas pressionam as glândulas endócrinas, o que regula a secreção de hormonas, essas hormonas afetam as emoções, perpassando pelo lobo frontal responsável pelo planejamento, raciocínio, resolução de problemas, julgamento e controle de impulsos, além de regular os sentimentos, como a empatia e o comportamento. Pelo lobo temporal, responsável pelo processamento auditivo e da linguagem, além das funções da memória e no gerenciar dos sentimentos, a jornada continua até o lobo parietal que auxilia a processar a dor e a sensação tátil, e no lobo occipital que analisa aspectos como a cor e o movimento para interpretar imagens visuais.

Alguns autores falam de um quinto lobo, o límbico que é composto por várias estruturas, entre as quais está a amígdala, o tálamo, o hipotálamo, o hipocampo, o corpo caloso e muitos outros. O sistema límbico gerencia as respostas fisiológicas para os estímulos emocionais. Também está relacionado à memória, atenção, instintos sexuais, personalidade e comportamento.

Outro ponto que podemos observar na pratica de Yoga é sua relação como agente redutor do stress. O stress é uma patologia difícil de definir e o termo abrange sintomas como problemas cognitivos, sono, fadiga, dentre outros. O stress é tido hoje como um problema de saúde pública e pode levar à redução da qualidade de vida, baixa eficiência de trabalho, aumento do consumo de medicamentos. Um ambiente não harmônico pode ser considerado como principal fator para o surgimento do stress.

Uma pesquisa feita por Bastille & Gill-Body utilizou do eletroencefalograma (EEG) como base para o estudo dos efeitos do yoga sobre o stress e seus sintomas. É uma análise neurológica realizada em pacientes-controle (não praticantes da meditação) e meditadores de Yoga (pacientes SYM – Sahaja Yoga Meditators), ambos os grupos foram colocados em situação de excitação não emocional (olhos fechados) e posteriormente em períodos de olhos aberto assistindo clipes de filme de fundo emocional e outros sob influência de emoções negativas experimentais (clipes de vídeo aversivos).

O EEG de 62 canais foi gravado em 25 pacientes SYM e 25 pacientes-controle. Achados do continuum não emocional revelam, no menor nível de excitação (com olhos fechados), que pacientes SYM manifestaram valores de maior potência nas bandas de frequência teta-1 (4-6 Hz), teta-2 (6-8 Hz) e alfa-1 (8-10 Hz).

No geral, o relatório apresentado enfatiza que as mudanças observadas na atividade elétrica cerebral, associadas com meditação feita regularmente são naturalmente dinâmicas e dependem do nível de excitação. O achado das potências do EEG também provê uma primeira prova de que praticantes da meditação no Yoga têm capacidade elevada de gerenciar a excitação emocional, portanto, consequentemente, diminuir os efeitos do stress.

Contudo o que podemos notar é que ao realizarmos determinados exercícios mágickos ou espirituais, é evidente que estes alteram, se bem feitos, tanto nossa psique quanto a nossa fisiologia, mas para um rito bem feito que realmente produza efeitos extraordinários é necessário a velha disciplina, bom senso, dedicação, imaginação e claro, entendimento e percepção de como isso afeta. Uma dica, o diário é um amigo e tanto.

Magia e ciência necessitam do experimentar para conseguirem atingirem seus objetivos, entretanto, em ambas toda a cautela e entendimento são validos, há muitos pontos a serem considerados antes, durante e pós um rito, ao menos que pensemos erroneamente que o efeito de um rito ou pratica fica só ali no local em que realizamos e fim…volta-se para os afazeres sem nada acontecendo nas esferas.

Amor é a lei, amor sob vontade.

Continua…

Autor: Frater Tahuti

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aftanas L, Golosheykin S. Impact of regular meditation practice on EEG activity at rest and during evoked negative emotions. COCHRANE-CENTRAL | ID: 00523199.

Crowley, A: Magick em Teoria e Pratica – A consecução do Gênio ou da Divindade, considerada como um desenvolvimento do cérebro humano.

Newberg A; Alavi A; Baime M; et al. The measurement of regional cerebral blood flow during the complex cognitive task of meditation: A preliminary SPECT study. Psychiatry Res, 2001.

Davidson RJ; Kabat-Zinn J; Schumacher J; et al. Alterations in brain and immune function produced by mindfulness meditation. Psychosom Med, 2003.