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Para entender Liber Resh e o comentário que se segue, é essencial que primeiramente você entenda que esse não é um ritual da O.T.O. É um ritual da A∴A∴. Porém, seus notáveis méritos têm sido reconhecidos por instrutores da O.T.O. de forma que sua prática dentro da Ordem é praticamente universal. Nós também o recomendamos com grande entusiasmo.

Por que, então, afirmamos tão enfaticamente que este não é um ritual, per se, da O.T.O.? Porque sem essa ideia firmemente estabelecida na mente, algumas das instruções de Liber Resh podem ser seriamente incompreendidas.

Afirmaremos a seguir que a O.T.O. não tem conhecimento oficial de nenhuma afiliação de membro vivo – ou não afiliação – à AA∴. Se você possui tal afiliação, isso é inteiramente entre você e seu Superior imediato na A∴A∴. Em particular, se seu Superior lhe der quaisquer instruções relativos a Liber Resh que sejam contrárias àquelas apresentadas aqui, não temos nenhuma prioridade nessa questão.

HORÁRIO DA PERFORMANCE

Liber Resh estabelece que essas adorações devem ser realizadas “ao amanhecer”, “ao meio‑dia”, “no pôr-do-sol” e “à meia-noite”. O que exatamente isso significa? E se você se esquecer? Surte algum bom efeito realizá-lo mesmo com atraso?

Os termos “amanhecer”, “meio-dia”, etc. são definidos diferentemente conforme os propósitos  astronômicos, civis, entre outros. O que se pretende em Liber Resh são aqueles momentos em que o Sol cruza o horizonte (leste ou oeste), ou meridiano (sul ou norte). Astrologicamente, esses momentos são idênticos àqueles em que o Sol cruza a 1ª, a 10ª, a 8ª e a 4ª casa do horóscopo instantâneo [astrologia horária].

Há um conjunto grande de evidências publicadas ao longo das últimas três décadas documentando a importância das posições planetárias no horizonte e no medium coeli dos mapas astrológicos. Talvez nenhum fator astrológico seja mais importante.

Em poucas palavras, os momentos em que qualquer planeta (Sol, inclusive) ascende, descende, culmina e anticulmina são aqueles em que nos tornamos mais conscientemente sintonizados com suas “energias”. Nesse momento, o planeta é “o mais forte”. Suas angularidades predominam inteiramente sobre todos os outros aspectos astrológicos.

Com relação ao Liber Resh, isso quer dizer que a aurora, o meio-dia, o crepúsculo e a meia-noite são os momentos em que se pode entrar mais facilmente em contato com o Sol e com a consciência que ele representa. Isso, em verdade, é um dos dois principais propósitos do ritual. (Outro propósito é habituar o estudante a permanecer consciente da Grande Obra ao longo do dia, ou ao menos várias vezes no dia).

Meia-noite e meio-dia são os momentos em que o Sol está nas partes celestes mais ao Norte ou mais ao Sul, respectivamente (para localidades ao Norte do Trópico de Câncer). Geralmente não são os momentos em que o Sol está no ponto mais baixo ou mais alto no céu. Esses são mais difíceis de calcular e não são tão importantes. Isso significa que possui particular importância o meio-dia e a meia-noite “naturais”, e não o horário do relógio! Durante o horário de verão, os horários aproximados são, portanto, 1h e 13h.

Há outros fatores que podem afetar o horário exato do meio-dia e meia-noite locais. Geralmente não devem ser levados em conta, mas em algumas circunstâncias precisam ser considerados. Por exemplo, a menos que você viva exatamente na longitude 120º W, seu meio-dia local acontecerá em algum tempo antes ou depois do meio-dia da Hora Padrão do Pacífico. Em Los Angeles, o horário médio do meio-dia “natural” local é 11h53min, sete minutos antes do relógio. (Vale também para meia-noite). Isso é apenas um horário médio. Conforme vários fatores astronômicos, o horário real varia ao longo do ano, até aproximadamente 15 min antes ou depois. (Não fique em pânico. O autor deste artigo tem todas as habilidades e recursos para facilmente fazer correções posteriores, e nunca as empregou na prática, por entendê-las desnecessárias).

Então, quanto temos de margem para o momento de fazermos nossas adorações? Não há regras fixas. Porém, devemos fazer algumas observações gerais.

Primeiro, o horário de maior conexão entre o Sol e a consciência são aqueles exatos momentos em que o Sol cruza o horizonte e o meio do céu.

A intensidade dessa conexão se dissipa à medida que antecipamos ou atrasamos. A exata taxa de dissipação nunca foi efetivamente medida. Porém, pode-se presumir que corresponda ao que se observa com planetas cruzando o horizonte ou o meio do céu (os “ângulos” de um horóscopo).

Basicamente, um planeta em até 2º de um ângulo é difícil de ser diferenciado de outro que esteja no exato mesmo ângulo. Isso, portanto, nos dá uma margem de certeza de aproximadamente oito minutos antes ou depois. A influência planetária ainda está consideravelmente forte em até 7º dos ângulos. Isso amplia nossa margem confortável para cerca de meia hora antes ou depois.

Um pequeno efeito ainda é perceptível em até 10º, mas nunca além de 15º dos ângulos. Isso amplia nossa margem para até 40 minutos antes ou depois, mas nunca para além de uma hora. A conexão é relativamente fraca a essa distância.

E o que fazer se você não conseguir realizar o Resh mesmo nesses amplos intervalos? E se o seu modo de vida torna uma ou mais das adorações diárias desarrazoadas?

A vantagem de fazer o Resh no exato momento, ou em horários próximos do amanhecer, do meio-dia etc., é que nesses horários há uma conexão mais fácil para que sua consciência se comungue com a consciência do Sol. Em outros horários, demanda-se mais esforço – mais magia de verdade (poderíamos dizer, mais yoga!) – para fazer a conexão. Você consegue fazê-la, mas apenas não possui a correnteza a seu favor!

Pessoas que se levantam mais tarde geralmente fazer o Resh matinal após acordarem. A atitude pode ser: “Eu, que me identifico com o sol, estou me levantando, e saúdo minha Estrela-Irmã que me precedeu no céu matinal. Possa eu também me erguer.”

Aqueles que dormem cedo podem fazer o Resh da meia-noite logo antes de dormirem. A atitude, nesse caso, pode ser: “Eu, que me identifico com o Sol, agora entro nos mundos mais internos, assim como Ele fez. Que Khephra me traga através da escuridão para um novo despertar.”

Em outras palavras: faça o seu melhor! Agora você tem algumas linhas gerais do que tende a ser mais efetivo. Lute com as contingências da vida e de suas adorações solares assim como todos temos de fazer.

“DÊ O SINAL DO SEU GRAU”

ISSO NÃO QUER DIZER O SINAL DO SEU GRAU NA O.T.O.

Liber Resh frequentemente realizado em condições públicas ou semi-públicas. Crowley encorajava as pessoas a não hesitarem em realizá-lo. Ainda assim usar o sinal do seu grau na O.T.O. em tais condições é violar seu juramento de segredo.

Lembre-se, então, de que esse é um ritual da A∴A∴, e não da O.T.O. A O.T.O. tem apenas três “Graus” [grades], ou “tríades”. Cada um é divido em vários “de-graus” [degrees]. A O.T.O. não tem sinal para seus Graus, apenas para seus de-graus. A referência que se faz aqui é ao sinal do grauda A∴A∴.

Sim, mas e se alguém não está na A∴A∴, isto é, não tem um grau [grade]?

No passado, um sinal genérico era frequentemente recomendado, sendo esse o Sinal da Terra (sinal de 1º=10º, “Set Lutando”). Porém, numa coleção de anotações ao The Equinox não publicadas, Crowley deu uma instrução para essa situação:

“Quando o aspirante não possui um grau, que ele dê os sinais dados no Vol. I [Liber O no Vol. I, No. 2, do The Equinox]: os sinais de L.V.X. no amanhecer, 4º=7 ao meio-dia, 2º=9 no pôr-do-sol; 3º=8 à meia‑noite.”

O arranjo é idêntico àquele do Ritual Menor do Pentagrama, no qual o praticante é posicionado na interseção de Samekh e Peh na Árvore da Vida. Tiphareth fica à sua frente no Leste, Yesod atrás de você no Oeste, Hod no Norte, e Netzach no Sul. (Hod e Netzach são trocados no Ritual do Pentagrama porque o sujeito se identifica com a Árvore da Vida). A adoração solar em cada um desses quadrantes é acompanhada pelo sinal dos graus correspondentes a cada Sephirah. São esses sinais que recomendamos àquele que possui “nenhum grau”. Eles se tornaram o padrão nos grupos da O.T.O. da área de Los Angeles. Tal padrão também permite àqueles que são afiliados à A∴A∴ de participarem nas performances grupais frequentes de Liber Resh e permanecerem invisíveis com relação ao seu grau.

A instrução para, ao amanhecer, dar os sinais de L.V.X. merece um comentário adicional. Pode-se escolher dar todos os quatro desses sinais. Alguns estudantes podem considerar “Análise da Palavra-Chave” como no Ritual do Hexagrama. Porém, para uso geral, recomendamos apenas o Sinal de Osíris Assassinado (também chamado de Sinal de Hórus): Fique de pé, com os pés juntos, os braços estendidos horizontalmente. O corpo fica, então, na forma de uma cruz de braços iguais, saudando o Sol ascendente. Esse sinal tem certas vantagens em si visualizar como Ra, surgindo com a aurora; então se torna Ra‑Hoor. É também um sinal empregado para exigir que o Véu da Natureza seja levantado; e, nos mais planos mais internos, ele tem esse efeito.

Ao meio-dia, dê o Sinal de Thoum-aesh-neith: Levante os braços e junte as mãos de forma que as pontas dos polegares e dos demais dedos se toque, fazendo um triângulo de fogo sobre a testa.

No crepúsculo, dê o Sinal de Shu: Estique os braços para cima e para fora, os cotovelos dobras dos em ângulos retos, as mãos dobradas para trás, as palmas para cima como se segurassem o céu.

À meia-noite, dê o sinal de Auramoth: levante os braços até os cotovelos estarem no nível dos ombros, coloque as mãos sobre o peito tocando a ponta dos polegares e dos dedos indicadores, de modo a formar um triângulo com o ápice para baixo (ou seja, um triângulo da água).

O SINAL DO SILÊNCIO

A adoração solar, ou “invocação”, deve ser seguida do Sinal do Silêncio. Esse é o sinal de Harpócrates. O dedo esquerdo (alguns diriam o polegar) é colocado, reto, sobre os lábios selados.

A ADORAÇÃO SEGUINTE

Parágrafo 5 do Liber Resh instrui que, “depois tu deves realizar a adoração que te foi ensinada pelo teu Superior.” A expressão “teu Superior” refere-se a uma relação da A∴A∴. Do nosso escritório na O.T.O., não temos nenhuma autoridade para fazer nada além de recomendações nesse ponto. Passamos para você o que recebemos como adoração apropriada nas fases iniciais do Trabalho. É possível que as várias diferentes linhagens autênticas da A∴A∴ comuniquem diferentes instruções. Igualmente, diferentes adorações são passadas em diferentes estágios de progresso, como é sabido por aqueles que jejuaram bolos doces e os ovos de ave-de-crocodilo e, então, desceram com Khephra na noite, apenas para se erguerem novamente com um certo apelo triunfante.

Nossa recomendação, após realizar a invocação solar e dar o Sinal do Silêncio, é ficar no Sinal de Osíris Ressuscitado (também conhecimento como o Sinal da Estrela Radiante) e recitar o seguinte do Capítulo III do Livro da Lei:

Eu te adoro na canção —

Eu sou o Senhor de Tebas, e Eu
O inspirado orador de Mentu;
Para mim se desvela o velado céu,
O morto por si mesmo Ankh-af-na-khonsu
Cujas palavras são verdade. Eu invoco, Eu saúdo
Tua presença, Ó Ra-Hoor-Khuit!
Unidade máxima manifestada!
Eu adoro o poder de Teu sopro,
Supremo e terrível Deus,
Que fazes os deuses e morte
Tremerem diante de Ti: —
Eu, Eu te adoro!

Aparece sobre o trono de Ra!
Abre os caminhos do Khu!
Ilumina os caminhos do Ka!
Os caminhos do Khabs percorre
Para agitar-me ou apaziguar-me!
Aum! que isto me mate!

[…]

A luz é minha; seus raios consomem
a Mim: eu fiz uma porta secreta
Para dentro da Casa de Ra e Tum,
De Kephra e de Ahathoor.
Eu sou teu Tebano, Ó Mentu,
O profeta Ankh-af-na-khonsu!

Por Bes-na-Maut no meu peito Eu bato;
Pelo sábio Ta-Nech o meu feitiço Eu teço.
Mostra teu esplendor estrelado, Ó Nuit!
Convida-me à tua Casa para morar,
Ó alada serpente de luz, Hadit!
Habita comigo, Ra-Hoor-Khuit!

Segue, novamente, com o Sinal do Silêncio.

FORMAS-DEUS

“[…] é melhor se nessas adorações tu assumires a Forma-Deus daquele que tu adoras, como se se tu tivesses se unido com Ele na adoração Daquilo que está além Dele.”

Geralmente, essa instrução é interpretada de forma a significar que você deve se visualizar na Forma-Deus de Ra ao nascer, Hathor ao meio-dia, etc. Instruções para a assunção de Formas-Deus são dadas no Liber O, Cap. III.

Ao assumir a Forma-Deus, geralmente se assume no corpo físico a postura do Deus. Liber Resh é uma exceção. Sua postura física é ditada pelo sinal que você foi instruído a dar. A técnica de “assunção de Forma-Deus” é, assim, um ato inteiramente mental (imaginativo) nesse ritual.

Uma página anexa mostra imagens características dos Deuses Ra, Ahathor, Tum e Khephra. Também o encorajamos a examinar as ilustrações populares das deidades egípcias.

As imagens visualizadas também podem ser mais simples do que essas. É coerente com as formas egípcias visualizar a si mesmo simplesmente na forma humana, talvez trajando seu robe da Ordem, com a cabeça de um falcão para Rá, de uma vaca para Ahathor, de um homem barbudo com a devida cobertura de cabeça para Tum, e um escaravelho para Khephra.

Há ainda aqueles que interpretam “Aquele que tu adoras” (Liber CC, 6) para significar o Sol propriamente dito. Certamente, uma técnica que se provou efetiva é realizar o Liber Resh enquanto se vê numa imagem radiante do Sol, em referência as palavras da Missa Católica Gnóstica, “Tu, centro e segredo do Sol”.

Autor: Fr. Iacchus

Publicado  no In The Continuum, v. IV, n. 4[1]

Tradução: Fr. יה-אמא-אל


[1] Publicado com a seguinte nota na capa: “EMITIDO POR ORDEM: FRATER IACCHUS – Sapientíssimo Soberano, Capítulo R.C. Babalon. Para a instrução de membros da O.T.O., especialmente aqueles na área de alcance do Capítulo Babalon. DOCUMENTO NÃO CONFIDENCIAL.”

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Agradecemos a Frater Zeph e Frater Iacchus pela atenção e presteza.

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