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Eu sou Nut, vim até vós trazendo presentes.
Tu te sentas debaixo de mim e te esfrias debaixo de mim e te esfrias sob meus galhos.
Eu permito que três bebam de meu leite e vivam e se alimentem de meus dois seios; pois
alegria e saúde estão neles…
Tua Mãe te dá Vida.
Ela te coloca dentro de seu Ventre onde Ela Concebe.
Tumba de Kenamun

Introdução

Estava observando após um longo dia de trabalho, as Árvores no quintal de casa, quando fui tomado por uma brisa de vento junto a ideia da Árvore da Vida. Recordo que essa parte de Liber AL ficou martelando em minha cabeça: “Meu incenso é de madeiras resinosas & gomas; e não há sangue aí: por causa de meu cabelo, as árvores da Eternidade…Cap.I:59”. Eu tenho o hábito de me permitir algumas conjecturas sentado no fim da tarde após saudar Tmw/Tem/Tum e em uma dessas conjecturas poentes, comecei a pensar também em uma conversa inspiradora com Soror Ártemis sobre o simbolismo das Árvores ao longo da cultura humana. Levando em consideração o conceito e iconografia da Árvore enquanto Símbolo Espiritual que vem sendo utilizado desde tempos imemoriais ao longo da história humana comecei a refletir nas ressonâncias das Árvores com as nossas, em suas imanências que dançam e quase não notamos.

Talvez vidrados demais em mundos das ideias, não percebemos a sutileza do coro das Árvores. Enquanto nos afundamos em ansiedades e depressões, as Árvores continuam a descer suas raízes no solo nutritivo da Existência. Preocupados demais em subir degraus, ter status de “certos saberes”, presos em cavernas platônicas, não notamos os troncos que se elevam,
estendem suas copas e absorvem todo seu ouro dos fótons. Presos em ideias que nos vestem, deixamos passar que as Árvores permanecem nuas, sentido o vento em seu corpo enquanto fazem passar seiva nutritiva e endurecem seu caule, fazendo de seu corpo uma armadura contra as intempéries e oscilações que a vida traz. Lição nietzschiana: a potência não pede
reconhecimento, apenas o tolo e o impotente!

A Árvore é um portal, uma dobra, um campo onde as forças se contorcem e se multiplicam. A semente torce e retorce a imanência, se apropria dela, faz algo. É um ponto ínfimo por onde forças colossais entram em ressonância, dançando um harmonioso ritmo de ricas substâncias que criam raízes, folhas, frutos! A natureza não brinca em serviço e não sofre de bipolaridade. Uma semente sabe o que quer, mesmo que lhe falte consciência (tão diferente de nós). Uma árvore vive o tempo de outra maneira, nós vivemos o instante morto, ela, a Eternidade no Presente. Nós possuímos bilhões de neurônios e nos perdemos nos corredores de supermercado sem saber qual a marca de x produto que queremos! Uma semente segue seu caminho com paciência, absolutamente segura de si, devir-prudente!

Uma Árvore sabe o que quer, ela se conhece profundamente, poucas coisas são capazes de retirá-la de seu triplo objetivo: alargar sua copa para absorver os raios do sol, prolongar suas raízes para abraçar apaixonadamente a terra e a liberdade para à Vontade de Ser. Cosmos e imanência em estreita ligação! Como queria Espinosa, fazendo do Conatus o esforço contínuo
para aproximar-se de Deus. Como queria Bergson, que na duração intensa encontrava a eternidade criadora do Elã Vital.

Resta um pouco de paciência vegetal em nós? Pode ser. Um pouco de suspensão sensório-motora? Quem sabe. Resta um pouco de força imanente que cresce sem necessitar de testemunhas oculares e filtros do Instagram? É possível. Resta um pouco de raiz, para nos alimentarmos de nossa própria estabilidade e regularidade? Talvez sim… esta persistência seria
capaz de nutrir velhas certezas, conquistar novas alturas, produzir novos frutos; mas talvez não, talvez estejamos nos tornando lentamente flores ornamentais de plástico, decorando escritórios higienizados de luzes brancas e ar-condicionado sempre ligado, sem perfume, sem vida…

Devemos fazer de uma pequena semente a contração entre a terra e o céu, mente e corpo, Filosofia Thelêmica e Vida? Em tempos de bonsais, devemos e podemos fazer mais em nós, conquistar o Infinito em Nós, sem perder a Consistência…seria possível?

Após essa breve reflexão inicial, gostaria de colocar os pés no chão e ir para a Terra Vermelha e lhe contar sobre uma outra Árvore…

A maioria das pessoas, estudantes e praticantes de ocultismo na modernidade, familiarizaram-se com o conceito da “Árvore da Vida” através de um sistema de espiritualidade chamado Cabala. Contudo, a ideia de ter acesso direto a Natureza ou Deuses através do Conhecimento, pela Cabala, já era evidente nos ensinamentos dos Antigos Egípcios, dos Hindus e dos Budistas que chegaram muito antes dos Cabalistas. No Antigo Egito, a Árvore da Vida, estava relacionada com o sistema religioso cirúrgico desenvolvido na antiga cidade egípcia de Anu e a Árvore era vista como a Fonte da Vida, e foi a Netert Nut, como a Netert a ser adorada, que estendeu o Néctar da própria Vida através da Árvore.

Na Espiritualidade do Antigo Egito existe um conceito chamado Chet-n-Ankh que significa “Bastão da Vida” – “alimento da madeira” – “vegetação”, “sustento da Árvore”, etc. Está relacionado com o sustento físico que é derivado das plantas, Árvores e com os mistérios da Netert/Princípio da Árvore que fornece o sustento astral.  Está também relacionada com o pilar Djed de Asar que é simbolizado por um tronco de Árvore.  O pilar de Djed é feito de madeira e contém o corpo de Asar, que quando plantado no solo, dá origem aos alimentos, mas que também representa a Essência Espiritual dos seres humanos e de Neter.

E torna-se: Shen Ankh (Eternidade) (existente no tempo e no espaço) (processo de Vida). O Ankh Egípcio por exemplo é composto por dois símbolos hieroglíficos. O topo do hieróglifo de Ankh é chamado de Shen e significa eternidade. É composto por uma corda que foi formada num círculo e atada na parte inferior. O outro hieróglifo é uma linha vertical que é um glifo determinante que significa aquilo que existe no tempo e no espaço. Assim, esta combinação de Eternidade, que deriva do Espírito, e os objetos do tempo e do espaço, (gostaria de chamar a atenção aqui para uma outra ideia sobre tempo e espaço, das quais muitos filósofos esqueceram e que não existe lá…no mundo das ideias. Enamorados que eram, ficaram flertando nas ideias com a quintessência da imobilidade e como resultado caíram em crateras conceituais. Sabe aquela velha pá? Então é hora de cavar um pouquinho, uns dois metros de terra e a estrutura se abala…é necessário dar alguns passos atrás e reaprender ou repensar certos conceitos, ou seja, perceber a duração, olhar por detrás da aparente imobilidade e ver ali na cara e tão Natural: o MOVIMENTO da VIDA que em sua Dança produz um Processo de Vida que conhecemos como existência mortal na Terra). A vida não existiria como ela é sem a duração, mas agimos como se tudo fosse efêmero e passageiro, “maldita” herança grega de ver o mundo?

No Antigo Egito, a Árvore é uma Fonte Sustentadora e Iluminadora da Vida, e a Netert da Árvore é (Princípio/Nut – preferi manter a tradução de Netert como Princípio sendo o mais correto em aproximação) da Sabedoria que Vive na Árvore e estende a sua Generosidade para as pessoas aspirantes do Espiritual.  Assim, o motivo da Netert da Árvore é fundamental na iconografia do Antigo Egito.  Simboliza a Netert em geral, mas as Netert Nwt/Nut e Hwt-Hrt/Hut-Huret/Hathor em particular, como a Essência ou Princípio Feminino ativo e doador da Vida. A Netert sustenta como Mãe a cuidar dos seus filhos, nutrindo-os com sustento físico e Espiritual, e quando o seu tempo está em cima da terra ela alcança-os e ergue-os até ao Pet/Céus. A Netert das Árvores, Nut, trata todos os seres humanos como trata o seu filho Asar, ou seja, almas/Ka encarnadas que um dia voltarão à fonte de onde vieram, no Céu, aos Céus ou Nut.

Voltemos ao pilar Djed,¥, ele está associado aos Neteru (Princípios), tais como Asar e a Ptah. É parte de um profundo ensinamento Magicko que engloba a energia da Força de Vida que engendra o Universo. É a força motriz que sustenta toda a Vida e impele os Seres à ação. No mito da Ressurreição Asariana por exemplo, está escrito que quando Asar foi morto pelo seu irmão Set, o seu corpo foi atirado para o Nilo e desembarcou nas margens da Síria. Lá crescendo até se tornar uma Árvore com um aroma perfumado tão maravilhoso que o rei da Síria mandou cortá-la e transformar em pilar para o seu palácio. O pilar de Asar-Ptah, feito de uma Árvore de Acácia, é uma referência às vértebras humanas e à energia do Poder da Serpente ou Força de Vida que existe sutilmente na espinha dorsal de cada ser humano. O pilar refere-se aos quatro estados mais elevados de consciência psico-espiritual em nós, com o nível mais alto simbolizando a iluminação espiritual suprema (O Movimento Espiritual).  Também, o Djed refere-se ao reino especial do Duat (Plano Astral) onde em Asar, simbolizando a ressurreição espiritual, pode ser descoberto. 

O conceito do Duat é um lugar especial de existência. Esta é a morada de Asar-Ptah, bem como o destino final daquelas pessoas que se tornam espiritualmente iluminadas pelos seus próprios sóis.  É o reino da Paz Suprema.  É conhecido como Sekhet-Aaru ou em outros tempos AmenDjed. AmenDjed é uma referência que une o simbolismo dos Neteru Asar e Ptah com a diety Amun, relacionando assim estas três divindades do Antigo Egito numa essência singular (e dissipando a noção de politeísmo).  Este monoteísmo não-dualista subjacente é um tema tântrico importante eu diria nessa conjectura. O Djed simboliza a alma humana desperta que está bem “estabelecida” ou “firme” ou “estável” no conhecimento do Eu, ou seja, iluminada. A antiga palavra egípcia Djeddu,¥¥, refere-se à morada de Asar dentro do Duat, “firmeza” ou “estabilidade”, bem como ao pilar de Asar. Em termos Thelêmicos, refere-se a estar firmemente estabelecido no Centro de Si. A ideia é tornar-se firme e erguido como uma Árvore (vertical), em oposição à instável e cair horizontalmente como os mortos, a fim de alcançar a terra e o céu, destruindo assim (sob a forma de transcendência) a dualidade. Djeddu significa assim ter a Sabedoria e não o conhecimento do que está abaixo e acima e transcender ambos, alcançando assim o objetivo de União, ou seja, de transcender a dualidade e tornar-se Um com Todos.

Este conceito de “firmeza” ou, Ru Pert Em Heru como a essência dos seres humanos seria o que em Thelema chamamos de Verdadeira Vontade, aquilo que em meu entendimento atual da Sebait/Filosofia Thelêmica seria um transcender de Eus e a União com Eu-Centro-Hadit.

Essa Cosmovisão de Nehet/Árvore da qual discorro livremente nessas linhas, como uma reflexão de poente, trata da minha visão de Thelema e da NATUREZA por trás da Natureza, conjecturando sobre como esse Ser tão esplendida, ou seja, a Árvore, mexeu e continua mexendo com nossa psique.

Pautti & Shetaut Neter

Essa reflexão acerca da Árvore da Vida Egípcia na concepção da Shetaut Neter (“Religião” Egípcia Antiga) me levou até o momento a um entendimento ainda em sua infância que os Princípios de Criação são uma emanação do que é sutil (o Espírito) para o que é firme (a Terra) ou como diz no texto das pirâmides 782: “Ó Grande, Céu, Você fez poder e força,e encheu cada lugar com Sua beleza, e Todas as terras pertencem a Você. Você segura Geb e Toda a Criação em Seu abraço”.

Outra observação interessante a ser feita é que no mito da Criação do Antigo Egito, esse busca explicar a Natureza da Criação como uma escritura de Cosmologia e Cosmogonia sempre em Movimento. A característica extraordinária do mito é que ele alcança o ensinamento, não através do uso de esferas apresentadas na Cabala, mas através de esferas abstratas e antropomórficas, bem como de formas antropomórficas-zoomórficas compostas e reinos governados pelas Forças Neteru simbolizadas como deuses e Princípios de deusas. Estes Neteru representam as Forças Naturais, mas também as energias que vão compor a personalidade humana, permitindo assim que nós humanos estejamos diariamente em comunhão entre humano/divino e mais além.   

Vale lembrar que os Antigos Egípcios expressaram o conceito de Árvore da Criação do Universo e da personalidade humana através de um Mito da Criação. Sendo que este mito da criação foi desenvolvido na antiga cidade egípcia de Anu, o outro na antiga cidade egípcia de Menefer e o outro na antiga cidade egípcia de Waset.  Os Mistérios da antiga cidade egípcia de Anu de cerca de 5.000 A.E.C. são considerados a mais antiga exposição dos ensinamentos da Criação do Antigo Egito. Os três formaram uma base para o desdobramento dos ensinamentos da espiritualidade que se seguiram nos mistérios da cidade de Men-nefer através do deus Ptah, e dos Mistérios de Newt (Waset ou Tebas), através do deus Amun. A Cosmologia é um ramo da filosofia que lida com a origem, os processos e a estrutura do Universo.  Cosmogonia é o estudo astrofísico da criação e evolução do Universo. Ambas estas disciplinas são facetas inerentes à Seibat/ filosofia do Antigo Egito através dos principais sistemas religiosos ou Pautti – Companhias dos deuses e deusas.  Uma Pautti ou Companhia dos deuses e deusas é um grupo de divindades, cada uma das quais simboliza uma Potência ou Princípio Cósmico particular que emana de Nut, do qual emergiram. Representam também as Leis Cósmicas da NATUREZA. Nut manifesta a criação através das propriedades e princípios representados pela Pautti. O sistema ou Companhia dos deuses e deusas de Anu é considerado como o mais antigo, e constitui a base do Tríade (Asar {Osiris}, Aset {Isis}, Heru {Horus}).

Um exemplo de uma correlação das práticas do Antigo Egito a que Thelema também adere é a prática da rotina diária de culto.  A Teurgia Anuniana prescreve que deve haver um culto quádruplo realizado diariamente (madrugada, manhã, meio-dia e crepúsculo) pelos Iniciados.  Esta é uma disciplina metafísica relacionada com Ra, (simbolizada pelo sol) nas suas quatro fases: (sol da manhã), (sol do meio-dia), (sol poente) e (sol da madrugada). Podemos notar aqui uma clara relação com o Sol e a Árvore que também irá aparecer em textos como o Zohar onde, lê-se: “A Árvore da Vida estende-se de cima para baixo, e é o sol, que ilumina a todos”. Da mesma forma, no Bhagavad-Gita da Índia (c.500 A.E.C.), a Árvore é usada como metáfora simbolizando que o mundo não é a fonte da sua própria existência, mas que de fato o Espírito é a fonte da Criação…” O Senhor abençoado disse: As escrituras falam da árvore imperecível Ashwattha (do processo do mundo) com as suas raízes acima e ramos abaixo; os versos védicos constituem as suas folhas. Aquele que conhece esta Árvore é o conhecedor da essência dos Vedas. Gita: Capítulo 15 Purushottam Yogah – O Yoga do Espírito Supremo”.

De acordo com os ensinamentos dos Antigos Egípcios, todos os seres humanos estão em viagem psico-espiritual. O fruto desta viagem interior é a descoberta de que se tem Paz e Felicidade Infinita Dentro de Si; este é o verdadeiro objetivo da vida. A fim de completar com sucesso a jornada da vida, todos precisam evoluir espiritualmente. Portanto, os Neteru da Criação e as suas várias formas de interação entre si são na realidade um elaborado código Magicko/Natural relacionado com as áreas da consciência humana que precisam de ser desenvolvidas para que o crescimento espiritual ocorra. A primeira coisa que se nota é a forma dos quais os Neteru, com base nos ensinamentos de Anu, são colocados de forma hierárquica de acordo com a ordem da sua Criação, e que elas surgem de acordo com o seu nível de densidade.  A densidade aqui refere-se à sua ordem de sutileza dos elementos da Criação.  Ra é o primeiro princípio a emergir das Águas Primordiais.  Ele é o Princípio sutil e singular da Criação, o foco da Unicidade no tempo e no espaço. O próprio Oceano Primevo transcende o tempo e o espaço e está para além da existência e da não-existência.  Ra é o primeiro Princípio a emergir do Absoluto (como Ra-Tem/Tum). A sua emergência significa o Início da Existência (Criação) e cada Princípio relaciona-se com um aspecto da personalidade e um aspecto cósmico da Criação que deve ser descoberto e dominado. Quando isto ocorre, a evolução espiritual da pessoa é promovida até se alcançar o destino final da Iluminação Espiritual (Nesast).

Sendo assim, posso arriscar a dizer que a Pautti (Companhia de Deuses e Deusas), ou os Princípios Criativos que estão incorporados nos deuses e deusas Primordiais da Criação, emanaram de Nut.. Ra ou Ra-Tem surgiu do “Nu”, as águas primordiais, a essência oculta, e começou a navegar o “Barco de Milhões de Anos” que incluí a Companhia de deuses e deusas.  A “Navegação” significa o início do Movimento na Criação. O Movimento implica que os acontecimentos ocorrem no reino do tempo e do espaço, assim, o Universo fenomenal passa a existir como uma massa de Essência em Movimento a que chamamos de elementos. Antes deste Movimento, existia o Estado Primitivo do Ser sem qualquer forma e sem existência no tempo ou no espaço. Os neteru (deuses e deusas) dos Pautti são Ra-Atum (Ra-Tem), Shu, Tefnut, Geb, Nut, Asar, Aset, Set, e Nebthet.  Shu, Tefnut, Geb, Nut, Asar (Asar), Aset (Isis), Set, e Nebthet (Nephthys) que representam os Princípios sobre os quais a Criação se Manifesta.

Na Árvore da Vida egípcia cada esfera e a sua divindade representam uma particular questão filosófica humana e/ou transcendental (cinco esferas inferiores) e questões cósmicas (cinco esferas superiores) que devem ser experimentadas e dominadas a fim de progredir.  Uma vez que a pessoa progrida para o domínio das dez esferas, pode transcender tudo e entrar no reino da consciência cósmica, por outras palavras, o despertar, a Unicidade com o Absoluto, o transcendental.  Assim, juntamente com as dez esferas ou reinos há outro, um reino transcendental que pode ser referido com o número infinito (∞).

Posso então concluir esta poente reflexão com a seguinte ideia: A Vida é uma eterna noite de núpcias da substância, onde uma Árvore é atravessada por todos os elementos do Universo. Como uma figura celestial e matriarcal, Nut também era conhecida como a “Senhora do Sicômoro.” Ela era a cuidadora das almas do submundo e era vista saindo do tronco da árvore do Sicômoro dando água e pão para os mortos. Seu poder garante que eles poderão respirar, beber e comer no submundo. No túmulo de Tutmés III, um Sicômoro simboliza Nut dando o seio ao faraó defunto. Nenhuma outra árvore foi tão desenhada e pintada pelos artistas da Antiguidade. O nome nouhi costumava designar as novas árvores plantadas no Vale do Nilo: a figueira era chamada de “sicômoro dos figos”; o balsameiro de “sicômoro de incenso”. E em muitas representações Nut era retratada como uma grande mulher nua com o corpo estrelado em posição de arco, suas mãos o firmamento, sustentando o céu, mantendo a ordem, para que o Sol, ou o Caos, não se choquem contra a terra, assim suas mãos e pés tocam os quatro pontos cardiais no horizonte.

E o que a Árvore nos ensina? Que Somos habitantes daquilo que nos circunda, perpétua imersão. Tudo isso as Árvores já sabem há milhões de anos, elas compreenderam muito antes de nós a Ontologia Atmosférica, o estudo do mergulho, a ciência do envolver-se, a reflexão sobre o afundamento (para cima). Por isso fora do mundo das ideias e cavernas, Ser é envolver-se, mergulhar, é fazer mundo com o mundo.

Autor: Frater Tahuti