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Autoria: Frater Tahuti

Escreve com sangue; e aprenderás que sangue é espírito.

Friedrich Nietzsche in Assim Falou Zaratustra

Personagens:

  • Pequeno Guardião
  • Formiga lava pé
  • Borboleta (Morpho linares)
  • Carcará
  • Homem Verde
  • Uma Criança
  • Fada
  • Ondina
  • Kobolds
  • Никто

Ato I

Apuã

Certa ida, estava caminhando por uma trilha aos pés de uma enorme montanha, o caminho de Ipê branco era um convite a explorar;Hibiscus Rosa-Sinensis coroavam parte do caminho, que lembrava uma serpente. Adentrando a trilha inúmeros Para-Tudo surgem à minha vista, nessa hora admirado e com o coração em êxtase por tal beleza, sentei, respirei e agradeci a Nenhuma-Contínua.

Já era a hora em que a Vaca Celeste com seus beijos ardentes toca a Terra, Nossa Mãe, e ali entre Para-Tudo e Ipês Brancos, em alguma parte da serpente, pude ouvir ao longe um leve riso doce ecoar. Encucado pus-me a andar observando que a cada parte do serpentino caminho, novas flores iam esplendorosamente compondo-o, primeiro as Colestenias com suas suavidades de cores vividas, depois as Pau-Terra, as Cagaitas e por fim as Ciganinhas.

Fascinado, continuei em direção ao riso que ia aumentando e outros sussurros aos ventos já se podia escutar; segui subindo e comecei a observar que Ametistas de formas simétricas coloriam a trilha.Ali, achando tudo isso maravilhoso, seguia até que, de repente, vejo ao longe um círculo e alguns seres que, pareciam,desenrolar um diálogo divertido.

Fui aproximando lentamente entre os Angicos vermelhos quando um pequeno guardião disse: Alto lá estranho!

Pequeno Guardião: Tenho observado você desde as Rosas Sinensis, está perdido por este serpentino caminho?

-Não, estou de passagem, seguindo até o topo. Queria chegar antes do pôr do Sol.

Pequeno Guardião: Entendo! Vai ter com o de cabelo azul que segura a chave e o cajado ao Poente!?

– Certamente… e por lá passar a noite!

Formiga lava-pé:Pequeno Guardião, quem está aí?

Pequeno Guardião: Não sei, ainda não me falou o nome só o que almeja.

– Meu nome vem de longe, um zé ninguém na praticidade da vida e da palavra.

Formiga lava-pé: Então, temos um Nikto a passear certo?

A Borboleta: Aproxime-se estranho, vejo que é da espécie humana (a suicida). Estávamos aqui justamente nesse círculo em um diálogo sobre as mazelas e atrocidades que vocês covardemente nos impõem.

Formiga lava-pé: É verdade que no reino de onde vem, tudo o que se faz é somente em prol do deus papel sem valor e por isso tudo destroem?

Nikto: Bem…sim, estou e fico triste em saber e ver que minha raça tem nos últimos 500 anos destruindo tudo em prol de um “falso progresso” e de uma suposta “liberdade”.

O Carcará: Do alto se vê bem e muita coisa, tenho observado que no reino de onde vem, a humanidade, tem em estórias depositado a sua grande esperança. Nem todos; poucos são a exceção. Vejo que lá, padres, abarés, compadres, ovelheiros de todo o subterrâneo tem na superfície gozado com vossas misérias.

A Borboleta: Eu até gosto das estórias, sabe; algumas tem um recheio danado, outras de quero mais, entretanto, em nenhuma eu vi: DESTRUAM O PLANETA! Saberia explicar isso para nós, humano?

Nikto: Não poderia e nem posso dizer por todos, no meu reino, o que sei e vejo, é que o deus dinheiro se tornou a grande coisa a ser louvada, talvez 30 moedas de pratas não tenham tentado somente uma persona “nom” grata por aí…outra coisa é que, ao mesmo tempo em que entronamos o deus dinheiro, muitos tomaram a ignorância no gargalo.

Formiga lava-pé: A velha e trágica ignorância, sofremos e muito com ela. Anualmente na grande reunião, ouvimos e choramos os danos, as perdas, as mortes que nos impõem e o lento suicídio que vocês cometem. São inúmeras queimadas, animais, insetos, plantas, sacra-árvores tudo a arder em prol de pastos, cidades, templos e afins. Na ignorância deus dinheiro acima de tudo!

A Criança: Minhas amigas e amigos estão imensamente chateados com a atitude que o reino da humanidade tem tomado, estamos assustados e preocupados com o pouco ou quase nada de conhecimento sobre equilíbrio e da natureza Nossa Mãe. Suas escolas, universidades, educam para quê afinal? Destruir em prol do deus dinheiro? Vaidade? Honras? Aplausos que nada mais são que mãos fazendo barulho?

Ah…deve ser para ter aquelas coisas, conforto, casas lindas com um entupidor de cérebro com múltiplos canais, poluidores ambulantes para na selva de pedra passear, top top celular (uma espécie de nova prisão mental de massas) para prosear. Nada contra a felicidade de vocês, mas poxa vida, tem e muitas, mas muitas outras formas né!?

Nikto: Sim, há tudo isso em nosso reino, infelizmente, os sacerdotes do deus dinheiro, nós os chamamos de políticos, nos obrigam a seguir os seus interesses estando nós conscientes ou não disso. A multidão ainda, apesar dos séculos, teme o poder de um só, aliás, não teme, está tão domesticada que aceita as migalhas numa boa; claro, alguns se revoltam, derrubam alguns sacerdotes do deus dinheiro, mas aí, o deus dinheiro não.

Fada: E o que o deus dinheiro dá em troca além de migalhas?

Formiga lava-pé: Por qual motivo seguem ideais subterrâneos?

A Criança: Não nos diga que no reino de lá, ainda impera a ideia de um além-túmulo?

A Fada: No começo era até legal esse conto, essa ideia, eu e a senhorita borboleta, contávamos ela como estorinha de terror em noites quentes. Dava até para dar boas gargalhas com a serpente sábia e danadinha e a mulher esperta. Pobre Adão bobão, caiu na lorota de um demiurgozinho e achou que havia caído do paraíso.

A Borboleta: Não, fala sério! Vocês destroem tudo e nos mata, por conta de um além-túmulo e um deus dinheiro para satisfazer seus desejos?

Nikto: Talvez sim, eu particularmente, acredito que em algum momento perdemos o fio de ouro e nos agarramos as 30 moedas de pratas. Não sei, talvez, em nossa busca enquanto reino, fomos seduzidos pela a ideia de que somos os seres supremos da criação e logo podemos gozar desse mundo a bel prazer, crendo que não haverá consequências se cortarmos as árvores, secar os rios, minerar o solo, poluir o ar, colocar agrotóxicos nas plantas que nos alimenta em prol do “agro é pop” e no fim disso vai-se a missa ou culto e pede a um deusinho alívio e paz para seguir com a vida. Que vida? Qual vida? Vida?

Formiga lava-pé: Posso sentir a sua raiva, a sua dor, alguns que passam por aqui também se importam com a Nossa Mãe, mas há de concordar comigo, no reino do qual faz parte há muitas, mas muitas pessoinhas podres e pobres de espírito, falta-lhes além de se livrarem das algemas e das prisões mentais, deixar aquele que calça botas amarelas cantar…

Ato II

Do de Botas Amarelas

Após a conversa inicial com os seres, fui convidado a participar de um banquete com frutas e água fresca das fontes que encantam a montanha. Estava ali no meio, pensativo e feliz por ter tal encontro quando assobiando e saltitante surge entre os Angicos vermelhos algo que lembrava um homem/mulher vestindo uma roupa in natura com botas amarelas, um chapéu triangular.Notei que em seu peito havia um arco-íris e alguns elementos em mãos. Esse estranho ser se aproximando de mim, em três e em zero sussurrou em meus ouvidos.

Afastou-se e 77 folhas, mostrou-me…

Homem verde: Amiguinho, ah amiguinho, o que fazes por estas trilhas? Não lhe contaram que é por aqui que alguém perde a cabeça?

O senhor já andou de cabeça para baixo? Consegue escutar com os olhos e ver com os ouvidos?

Ou tem no estômago o vazio que os Maias em seu mito da criação nos fala?

Diziam os Maias, com quem bebi e dancei em noites loucas em Calakmul, que no início, após a criação da humanidade, um homem se sentou sozinho e assolado pela tristeza. Os animais se aproximaram dele e disseram que não gostavam de vê-lo triste. O homem então disse: “eu quero ter a vista boa. ” O Falcão lhe respondeu: “você terá a minha. ” Então o homem disse: “eu quero ser forte. ” O jaguar disse: “será forte como eu”. E o homem disse: “há muito tempo quero saber os segredos da Terra”. A serpente respondeu: “Eu os mostrarei a você”. E assim foi com todos os animais, exceto um, e quando o homem feliz levantou e foi embora, a coruja disse aos outros animais: “Agora que o homem sabe muito e pode fazer muitas coisas, de repente, eu fiquei com medo”. O cervo entrando no diálogo diz a todos: “o homem tem tudo o que precisa, agora a sua tristeza findará”. Mas a coruja respondeu: “Não. Eu vi um vazio no homem, profundo como a fome que ele nunca saciará. É isso o que o deixa triste e o que faz ele querer sempre mais. Ele continuará tomando até o dia em que o mundo dirá – eu não existo mais, e não me sobrou nada para dar”.

Fico sempre muito encucado com esta coruja, você não?

Formiga lava-pé: Ainda quer ir subir a trilha amiguinho? Acredito que muito além da bagagem que leva, deve ter algo que valha a pena a subida, o esforço e o deserto, certo!? Ou seria a descida?

Nikto: Sim, se sobe ou desce a serpente, eu trilho. Para mim as pedrinhas importam mais, sentir elas nos pés enquanto ka-minho por esta vida, está aí algo que amo demais e profundamente. Talvez em alguma parte eu me perca, com toda a certeza irei errar, mas sabem de uma coisa amigas e amigos? Mesmo que muitos homens em algum dado momento tenham perdido o Ka-minho que leva ao mais Interno, alguns de nós humanos, ainda havemos de esses mares e montanhas explorar, e para todo humano que cruzamos não em palavras, mas em atos, inspiramos a ver a Simplicidade e Beleza desse ato…

A borboleta: Muitas palavras, muitos livros, eu sei bem o que são, de cá para lá, vivo pousando neles. Nesses passeios vejo muitos humanos lendo, lindas bibliotecas. Uma pena quando isso só fica em papo de boteco, palanques e academias, não é mesmo? Imagina que desperdício aprender algo novo e não aplicar, vivenciar, só ficar arrotando verborreias tônicas e meias verdades, uma lastima não?

Formiga lava-pé: “APRENDE, filho, que o verdadeiro Princípio de Autodomínio é a Liberdade. Pois nós nascemos em um Mundo que está escravizado a Ideais, e a estes, somos obrigados a nos sujeitar, quer nos sirvam quer não tal como os inimigos de Procrustes eram adaptados à sua cama. Cada um de nós, à medida que cresce, aprende Repressão de si mesmo e de sua verdadeira Vontade. “É uma mentira, esta tolice contra ti mesmo”: estas Palavras estão escritas no Livro da Lei. Portanto, essas Paixões em nós mesmos que nós percebemos serem Empecilhos não são nem Arte nem Parte de nossa Verdadeira Vontade; mas são Apetites doentios, condicionados em nós por falso Treino em nossa meninice. Assim, os Tabus de Tribos selvagens contra o Amor reprimem aquele Verdadeiro Amor que nasce em nós; e através desta Repressão vem Doenças do Corpo e da Mente. Ou a Força da Repressão nos vence e cria Neuroses e Insanidades ou a Revolta contra aquela Tirania, irrompendo com violência, causa Extravagâncias e Excessos. Tudo isso são Desordens e contra a Natureza. Agora aprende de mim o Testemunho da História e da Literatura, como um grande Pergaminho de Conhecimento. Mas o Pergaminho é de Pele Humana e a Tinta com que está escrito é o nosso próprio Sangue”.Nota 1

Passando por aí um dia ouvi essas palavras, achei bonito, aliás muito bonito, e você aí, o que acha?

O Homem Verde: Humaninho, vamos dar uma volta? Tem um lugar que gostaria de lhe mostrar. Já te digo que a trilha para este lugar é repleta de amoras docinhas e azedinhas, uma travessura da beleza, mas tenho que te alertar, muito peso, muito livro sem que coloque a imagina – ação para cantar por lá, humm não dá!

A Fada: Assim, de leve, as palavras tolas aos ventos e ao boi neste ato selvagem, serpentinal e simples tecem…caminhos? Ka-minhos? Afinal, humana criatura, Ad astra per áspera trilha ou no sofá espera o fast-food iluminado e a salivação?

Ato III

Do Pescador

Pela trilha de amoras, para onde o Homem Verde leva, não há razão; apenas uma Sabedoria e Tolice que podia se contar em 1,1,1 ou por um boi. As amoras parecem nessa grande tolice em mágicka orquestral equilibrarem-se entre doces e azedinhas, algumas em tom brincalhão com a visão, zombam da língua e do estômago com seus amargos sabores e saberes…

Os kobolds a frente cantam em meio de deliciosas risadas sobre a lenda das amoras.

“ A Rainha Contínua em sua doçura e beleza nos deu essas sementes de amor
Pegamos as sementes com carinho e semeamos
Os pássaros lançaram mais além em ardor
E por muitos lugares essa doçura celebramos…”

Ao aproximarmos de um lago reluzente e vívido, ouvia-se as Náiades, Ondinas e Limnádes entre cristais celebrarem com suas harpas e flautas. Unda, Unda, Unda, Invocavam em tons de voz que jamais ousaria tentar descrever. Após um breve silencio, as águas em movimentos leves fizeramsurgir uma…voz…que dizia…

A Ondina: “-Ouça! -Ouça! -Sou eu a Ondina que emana dessas gotas d’água os losângulos sonoros da janela iluminada pelos mornos raios da lua; e eis num vestido reluzente a senhora do palácio, que contempla de seu balcão a bela noite estrelada e o belo lago adormecido. Cada vibração é uma pequena onda que atravessa a corrente, cada corrente é uma passagem que serpenteia rumo ao meu palácio, e meu palácio é de construção fluída no fundo do lago, dentro do triângulo de fogo, da terra e do ar. -Ouça! -Ouça! -Meu pai bate na água murmurante com um ramo de amieiro verde, e minhas irmãs acariciam-no com seus braços de espuma renovando-o em ilhas de ervas, nenúfares e íris onde zombam do salgueiro caduco e barbudo que pesca”. Nota 2

Olá, irmãzinhas e irmãozinhos!

Quem é este que pelo serpentinal Ka-minho de Apuã ousas passar?

Quem se aventura hoje entre montanhas, desertos, mares do não muito longe, do tão perto e do profundamente que rodopiando dança e lá e aí se lança?

Homem Verde: Encontrei com ele no círculo dos Angicos vermelhos, estava conversando com alguns seres e segundo ele, só quer ir ao topo e passar a noite.

A Ondina: Entendo…de todo o coração que não sejas rude e maldoso com as plantas, árvores e todos os seres que aqui vive. O seu povo, para a nossa infelicidade, muitas vezes quando no reino verde entram, é para saquear e matar, nos destroem… mas não vejo esse olhar em você, então além de passar a noite, qual o motivo?

Nikto: O motivo é bem simples:uma pequena festa. Não pretendo subir montes e pegar verdades, quero simplesmente sentar e respirar; para mim é uma prece e tanto!

A Ondina: Então é muito bem-vindo nesse reino e sendo assim gostaria de convidar a todos para um fim de tarde festivo e ondular.

Em instantes outras ondinas surgiram e bem organizadinhas tomaram seus lugares em um pequeno teatro aquático e com seus instrumentos em mãos… uma flauta rompe o silêncio com melodias doces e um pequeno órgão seguia harmonizando, então um coro deu lugar e tudo vibrou…

“Sutil, Impiedosa, Nutridora, Tempestuosa
Com Força e Amor moldamos
Com Força e Amor arrasamos
Honramos a Grande Mãe
Honramos o Grande Pai
Honramos a Grande Criança
Com ardor serpenteamos e no Oceano desencadeamos
Corram, corram, corram,
Pois nós afogamos sem distinção
Em nosso lado indócil
Mostramos em um puxão a morte e vida
Atenção, atenção, atenção
Pois nós saciamos a sede sem distinção
Em nosso lado dócil
Mostramos a vida e morte
Não, não, não
Nem tente represar,
Nem tente conter de alguma forma
Sempre e com muita paciência achamos o caminho
Mas, se alguém observar
Com Arte e Amor
Quando na mente humana bailamos
Verás…que longe, muito longe, dos delírios de médicos e poetas
Nossa Loucura Aquática celebra a União.
Silêncio! Silêncio! Silêncio!
As cortinas rasgaram
Faltou o fôlego?
Um Aeon caiu?
Então celebremos o Novo todos os dias em nossos corações,
Estabelecendo ele diariamente e com muita Vontade em todas as ações.
Viva! Viva! Viva!
Salta agora Ó pescador
Maluco Wagneriano
E dança com a gente nesse dia!

A Fada: E assim, sob um leve toque de botas amarelas e vibrações aquáticas as cortinas fecham o ato, mas lembre-se, mesmo que não entendas nosso idioma sinistro e tão, tão natural, olhe e observe, deixe sua paixão e ânsia de lado só por um instantezinho nesse tic tac do mundo e aí, sim, bem aí, pequena estrela, mergulhe e um dia quem sabe, nossa língua simples possas falar…

ATO III

Quando o Vermelho Pinta o Céu

Ébrio, sereníssimo, contemplativo, caminhava após a festa no lago. Estava só; ali subindo uma trilha bem íngreme e sentindo o forte vento das Terras Austrais no rosto. A cada suspiro gentil das árvores, uma saudação de pura Irmandade. Quando cheguei ao topo já estava na hora de um certo bailar de cores.

Peguei algumas pedras e as coloquei ao Leste e no Oeste e em um poderoso cântico de saudação dancei por um instante. Vendo isso, o Carcará aproximou-se pousando na copa de um Jacarandá do cerrado.

O Carcará: Essa canção é forte não!? Um brado de Liberdade Solar eu diria, sutil e profundo.

Nikto: Sim, gosto bastante, me traz na consciência aquela ideia, aquela explosão de Luz, Vida, Amor e Liberdade sentida na pele…

O Carcará: Então veio até aqui para cantar e dançar? Não quer descer com alguma verdade?

Nikto: Tirando a minha verdade, não vejo necessidade. Aprendi a ver, a olhar para as outras estrelas que dançam ou não pelo mundo, cada uma tem lá seu brilho ou não. Se algum dia um poema mal escrito meu, um rabisco na tela ou um gesto inspirar o olhar para o Mar, isso já me seria “bão” demais!

O Carcará: É assim que ao andar por aí, entre ruas, avenidas, florestas, montanhas e desertos age?

Nikto: Sabe, meu querido amigo, do que adianta dar de frente com a Lei e não a aplicar em cada instante nesse gigantesco jardim? Seria uma tolice achar que ao deparar com tal e sua Arte, esta sirva somente para dar poder a egos tristes ou para crianças birrentas saírem por aí gritando que sabem fazer magias…

O Carcará: Impiedosamente rimos dessas estrelas que em tal Arte buscam apenas satisfazer seus vazios, seus desejos dos quais em muitos casos são confundidos com vontade e pior ainda com Verdadeiras Vontades.

Nikto: Há bastante estrelas assim lá no reino, eu as vezes as olho e penso em suas infâncias, se lá, naquele cantinho da memória se lembram de que imaginação, percepção e vontadecriam…

O Carcará: Mas parecem mais interessadas em serem papa-livros e decorebas do que artistas em cuja próprias telas pintem a sua simplicidade e beleza. Uma pena não acha? Há tanto para brilhar…

Nikto: Sim. Por lávejo que muitas de nós estrelas pararam em algum confortável sistema de rotação cujo o valor e a moral, ao que tudo indica, com fábulas e “verdades” prendem, traçam uma pouca imaginativa rota, arriscar para fora? Humm – não, tem bicho papão! E assim continua o tragicômico espetáculo humano…

O Carcará: Vocês, todas vocês, deveriam pegar aulas com as formigas: são tão pequeninas e formidavelmente organizadas e não me venham com o cérebro maior ou menor, menos teoria e mais ação.

Ouvindo sobre formigas, eis surge a formiga lava-pé…

Formiga lava-pé: O curso é grátis, não é aula de magia paga! Basta observar, temos vivência em nossa ciência e isso por si só já basta!

Mas antes da aulinha de organização, você poderia levar para o seu reino essa recita simples?

Nikto: Sim, posso sim amiguinha!

Formiga lava-pé: Então aí vai: Aulinha de magick prática…

Plantando árvores pela não PHD formiguinha lava-pé

  • Você vai precisar fazer a abertura da cova com dimensões adequadas para cada tipo de árvore; 
  • Utilize terra com pH adequado, onde numa escala que vai de 1 a 14, o índice de acidez ideal é pH neutro igual a 7, onde a capacidade de absorção dos nutrientes é de 100%. Acima de 7 o solo é alcalino e abaixo de 7 ele é considerado ácido. Um índice de pH entre 5,5 e 7,5 é considerado bom, mas o ideal seria um índice entre 6,8 e 7; entendeu!?
  • Prosseguindo, para correção de solos ácidos, deve-se adicionar calcário, sendo o dolomítico o mais indicado, pois além de cálcio, o calcário dolomítico adiciona também magnésio ao solo. A quantidade de calcário a ser incorporada ao solo é indicada pela análise do solo;a adição de nutrientes do tipo adubo químico NPK – nitrato, fósforo e potássio;adubos orgânicos do tipo folhas secas, cascas de frutas; e nunca se esqueça que as regas são periódicas.

Uma simples maneira de fazer o solo ganhar textura é através da adição de matéria orgânica, onde as bactérias e micro-organismos presentes na matéria orgânica cuidam do solo. Nos solos argilosos, a matéria orgânica melhora a drenagem e permite que o fluxo de ar circule mais facilmente. E nos solos arenosos contribui decisivamente para manter a umidade e os nutrientes na zona das raízes. A matéria orgânica pode ser do tipo composto, estercos, tortas e húmus, os quais devem ser devidamente cuidados, para não queimar quimicamente as plantinhas.

Ahh! Antes que me esqueça, adubos orgânicos como algas secas, cinzas de madeira, compostos orgânicos, folhas secas, cascas e restos de frutas caem muito bem queridinho!

Nikto: Qual o motivo de levar essa simples receita para o reino?

A Formiga lava-pé: Ora, pelo simples fato de vocês aprenderem a terem mais Amor e contato com a Natureza que nos cerca, nos aconchega e nos envolve em seus mistérios. Um outro ponto seria para que assim vocês parem de destruir e queimar a Natureza e o Planeta…tá chato, tá feio, tá egoísta!

A Fada:Magick é a Ciência de entender a si mesmo e suas condições. E a arte de aplicar este entendimento à ação”.Nota 3

E assim, ao cair da noite, próximos de uma fogueira e contemplando as montanhas vivas, silentes e festivas que se pode avistar daqui… algumas pinceladas em vermelho para o céu, algumas pinceladas verdes e amarelas depois…vós deixamos até um breve encontro!

Mas antes, lembrem-se todos os dias aí que o “Amor é a lei, amor sob vontade”.


Notas de rodapé (use o link para voltar)

Nota 1 – Liber Aleph – Da Vida Correta

Nota 2 – Aloysius Bertrand

Nota 3 – Magick em Teoria e Prática – Aleister Crowley