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Por: Soror O. Naob

Muitos me perguntam pela Verdadeira Vontade, a qual, povoa e tem povoado através dos tempos o imaginário de milhares ao redor do mundo. Eu diria que a Verdadeira Vontade é o doce fruto do idílico fenômeno da liberdade absoluta.

Se tua vontade é o trabalho, mas teu corpo te arrasta para o sono, isto não é liberdade; careces, portanto, da condição necessária à Verdadeira Vontade.

Se, por outro lado, tua vontade é o descanso, mas tua mente gera a ânsia do trabalho, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.

Se diante de uma mulher ou homem não desejas sexo, mas as voluptuosas e belas formas dela ou dele te dominam e te deixas arrastar sem consciência para a cama, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.

Se, em contrapartida, diante de uma pessoa sentes a inspiração e almejas a união sexual, mas face à imposição moral daquilo que te rodeia ou frente à tua insegurança interna recusas aceitar o enlace, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.

Se diante dos maravilhosos sabores, perfumes, texturas, sons, formas e cores do mundo, não desejas experimentar, mas te deixas levar pelo fluxo irresistível da fantasia do pomar, isto não é liberdade; careces da condição necessária à manifestação da Verdadeira Vontade.

Se mesmo diante da oposição do sonho da razão queres seguir um impulso fidedigno do teu coração, mas te abandonas ao descaso do cotidiano, corrompendo tua vontade aos ditames daquela, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.

Se dentro de ti tudo é dúvida, incerteza, frustração e medo que te impedem de caminhar, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.

Se tua mente aponta uma direção, teu coração outra e teu corpo ainda uma outra de modo que não consegues reconhecer a direção correta a seguir e tudo é confusão, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.

Se diante das agruras do caminho te submetes à amargura da dor e cais derrotado e sem forças para cumprir a meta almejada, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.

Se diante do amor ao outro desejas estar ali integralmente presente e aberto à compreensão, mas as palavras e atitudes dele projetam tua mente para outras paisagens e estremecem teu coração, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.

Se diante de ti e do mundo desejas permanecer em silêncio absoluto, mas o burburinho externo te atormenta, induzindo-te a buscar refúgio na reclusão, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.

A escravidão tem alcances e sutilezas que a princípio são difíceis de detectar…

A Verdadeira Vontade não pode ser adquirida atrás das grades daquela prisão, exige o vôo livre do pássaro que alcança as mais incríveis alturas e descende aos mais profundos abismos sem se deixar afetar por ambos.

Um homem livre é aquele que comanda com destreza e prontidão todos os níveis de sua natureza, do submundo ao celestial.

Se teu próprio universo individual não obedece à tua ordem e tens tantos senhores que não sabes qual desejo cumprir a seu próprio tempo, como podes julgar ser livre? Os grilhões que te acorrentam são muito mais profundos do que aqueles que apontas e acusas no mundo objetivo que te rodeia.

Assume a responsabilidade sobre teu próprio destino. Vence os condicionamentos irrefletidos, disciplinando e refinando tua natureza a um ponto de tão profundo, amplo e absoluto silêncio interior, que os apelos do mundo não te desequilibrem mais. Só então serás livre e estarás apto a apreender em teu coração a canção do universo que te revelará a verdade essencial da tua Vontade. Ainda assim, o som desta canção será apenas silêncio, ausência de atividade cujo resultado é ação firme e desimpedida, a única e real ação e não aquela ilusão de movimento que tu já tão bem conheces.