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Faze o que tu queres será o todo da Lei.

O presente artigo foi tema de nossa palestra em março deste ano, e teve como principais objetivos elucidar sobre a raiz da palavra e a relação da mesma em nossas consciências.

Fraternidade…essa palavrinha dá um Trabalho.

Antes de adentrarmos ao assunto em si, creio ser enriquecedor darmos uma olhada mais de perto na etimologia da palavra.

Dentro do conceito etimológico Fraternidade pode ser vista ou entendida como: a relação harmoniosa e aprazível entre vários indivíduos.

Um pouco difícil não!? Ainda mais que nós enquanto indivíduos estamos mais preocupados com os nossos umbigos e disputas sem sentidos, moldados a ferro e fogo por um sistema onde competição e destaque são bastante encorajados.

Infelizmente, isso é bem comum, até mesmo dentro de Ordens que buscam estabelecerem união e respeito entre seus membros, caem nessa teia. A ideia de fraternidade estabelece que o homem, como animal político, faça uma escolha consciente pela vida em sociedade e para tal estabelece com seus semelhantes uma relação mais harmoniosa e de respeito.

Entretanto vivemos em um período, onde este conceito de relação harmoniosa e aprazível entre vários indivíduos, parece ter sido jogado de lado, guardado em alguma caixa em nosso imenso cérebro. A cada dia estamos mais egoístas, ou seja, agimos somente em prol de nós mesmos, de nossos desejos, não vivemos em uma sociedade ou tão pouco praticamos algo que lembre uma relação harmoniosa, pelo contrário, estamos sempre em conflitos, ora com nós mesmos, ora com o nosso próximo, basta alguém ter uma ideia diferente da nossa, e o circo muitas vezes está armado.

O saber ouvir e dialogar, parecem terem virado peças de antiquários tão pouco procuradas, na verdade preferimos muitas vezes ao invés de entendermos a raiz de algo, tendemos a ataca-lo sem buscarmos verdadeiramente entende-lo.

Até aqui vimos que a ideia de Fraternidade é algo bem difícil de se aplicar, porque são poucos de nós que literalmente nadam contra a maré forte da cultura da servidão, do conformismo, do materialismo desenfreado, enfim são poucos que buscam respirarem outros ares por assim dizer, além dos ares dos ismos.

E Uma Fraternidade Thelêmica?

Honestamente, Thelema é um campo de batalha, uma luta diária contra nós mesmos, e dentro de um grupo Thelêmico há sim alguns conflitos e desentendimentos, mas acredito que se esse grupo é formado por pessoas conscientes, estas praticarão uma escuta empática e respeitosa de ideias que não estejam em conformidade com as suas, e juntos irão trabalhar com foco e disciplina para solucionar a questão em si, sem que haja nisto uma tola necessidade de se mostrar mais que o outro.

Edgar Morin dizia: a liberdade pode ser instituída. A igualdade pode ser imposta. Ao contrário, a fraternidade não se estabelece com uma lei, nem se impõe pelo Estado! Vem de uma experiência pessoal de solidariedade e de responsabilidade. Sozinha, a liberdade mata a igualdade e a igualdade imposta como único princípio destrói a liberdade. Só a fraternidade permite que se mantenha a liberdade, continuando ao mesmo tempo a luta para suprimir as desigualdades.

A fraternidade indica uma sociedade genuinamente igualitária, uma igualdade não só de direito, mas sobretudo de fato, em nome da iminente dignidade de cada ser humano. Numa sociedade fraterna os privilégios individuais já não existem, e cada um cuida do outro, de cada próximo. Implica um contato imediato com as pessoas, reconhece que cada um é ao mesmo tempo diferente e igual. Diferente porque cada um é único. Igual porque em cada um há a chamada a ser irmão em humanidade; somos irmãos enquanto pertencemos à mesma família humana. A fraternidade enriquece a liberdade e a igualdade porque, ao contrário da liberdade liberal, a liberdade fraterna sente-se responsável pela liberdade do outro.

Acredito que a postura que um grupo Thelêmico frequentemente busca é o de expandir a consciência e não ficar criando barreiras para esta.

De encorajar o livre buscador a explorar seu próprio Universo, ter suas experiências, experimentar qual cientista várias formulas e métodos, Thelema não é fechada, Thelemitas não são fechados e o terrível Rabelais nos lembra ainda que: “Nossa Abadia não possui muros”.

Fraternidade exige sinceridade e equilíbrio, devemos sermos sinceros tanto para com nós mesmos, assim como para com o coletivo, e pensarmos em como podemos contribuir com um grupo forte e unido, acima de títulos ou graus, um grupo com um trabalho mais elevado, onde os quatro raios da Lei fecundam e brotam.

Para que isso aconteça é necessário explorarmos mais nossos Uni e Versos e buscar compreender mais nossos Universos. Sem autoconhecimento, sem autodomínio, sem disciplina e responsabilidade não criamos uma fraternidade e nem damos nascimento a um espirito fraterno, criamos somente confusão.

Frater: T.

Amor é a lei, amor sob vontade.